Vista da exposição “Dobradinha” na Gruta – Imagem / Divulgação
JOGO: dos mais do que sete acertos
O que acontece quando artistas se encontram em vida e linguagem e espaços? Muitas respostas surgem dessa pergunta, e assim como os caminhos que surgem quando um lápis desliza sobre uma folha de papel ou pedaço de tela – aqui já começando a falar de superfícies – essas respostas são criativas, criam percursos, caminhos.
Ler apontamentos gráficos como quem caminha me faz perceber que os apontamentos direcionam-se aos encontros, onde as linhas e às vezes manchas permanecem como rastros, e as telas e folhas viram (e vêem) pegadas no chão, nas paredes, e de vez em quando marcam-se os “x”. E essa leitura pode ser a descrição de uma construção de palco, se considerarmos a devida disposição de luzes e peças. Peças-trabalhos, unindo-se em ritmo, quando definem-se algumas regras básicas.
REGRA NÚMERO 1 – Estado de percurso=Estado de jogo
O estado de jogo permite marcas, riscos, manchas esparramadas, tornados. Ateliê e espaço expositivo respondem quase que na mesma frequência, desafiando o texto, este aqui. Há pouco espaço para teorias, esse é um elogio às práticas. Restam, ainda bem, as tentativas de enumerar as tais supostas regras às quais os jogos se moldam. Nesse jogo, moldam-se dois espaços e duas produções, Felipa e Nicholas, Totó e Gruta.
REGRA NÚMERO 2 – Estado de jogo=Estado de caminho
O caminho pode ser um rascunho em uma folha de caderno, um respingo no canto da parede (um canto!) um suporte de madeira para a próxima tela. Os trocadilhos e as dobradiças são permitidas. Dançar e rasurar entram como verbos-dados, agindo sobre as várias peças-trabalhos-respostas.
REGRA NÚMERO 3 – Estado de caminho=Estado de encontro
Vamos ao e de o encontro. Cada dobradiça sugere sua própria pista. Sem alguns pulos também não se vê muita coisa, então, que venham pulos. Importa pintar, improvisar, conversar, ir adiante: caminhar enquanto rolam os dados. Mais do que quatro, são vários dados (vários dados!). Os sentidos das palavras cintilam em mudança, como as imagens, como a pintura.
Temos áreas periféricas e alguns pontos focais, estímulos de pés e línguas. Felipa e Nicholas falam e comunicam em vários idiomas também, e aqui com as letras do texto, o que aparecem são também variadas configurações, arranjos. Cada uma tem uma jogada e elas acontecem formando trajetos, que se revestem de pinturas. Começa mais uma pintura, novo ponto, novo canto, passo pra frente ou pro lado. Os vários lados de um passinho. Pega um recorte, preenche um lado de azul, contorna com carvão aquela mandíbula que parece um arco. Mais uma, agora é sua vez.
REGRA NÚMERO 4 – Só se acerta no erro e só se erra no acerto
Dá pra escolher por onde começar e por onde terminar, os riscos e a linguagem permitem, mesmo. As linhas podem se repetir. Cada encontro é um ponto de equilíbrio, mantém-se um pé em suspenso. O que acontece quando artistas se encontram em vida e linguagem e espaços? Entre tantas curvas, o que dá pra garantir é que acontece um jogo, um canto, algumas tantas dobras e outras tantas bordas. Importa continuar o percurso, assinalar os encontros, pintar mais uma tela, desbloquear mais uma skill. Importa o rolar dos diferentes dados, e os olhares curiosos que constroem as trilhas (e os trilhos); importa exportar travessias e acusar travessuras, de novo, e de novo.
Letícia Lopes
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