“Desassossego” de Andrea Rocco na Bianca Boeckel

“Desassossegada é a imagética da artista plástica Andrea Rocco. Distante do repouso. O encontro com a sua obra cria uma intranquilidade de tal ordem, que as imagens ficam povoando a nossa mente de forma a produzir o movimento estonteante do caleidoscópio. A obra da artista não convida à pura contemplação, antes anuncia a sua impossibilidade, pois não nos liberta do mal-estar que permeia o mundo contemporâneo”. Aponta Maria Arminda do Nascimento Arruda, socióloga, professora titular da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e responsável pelo texto crítico da mostra.

Para esta exposição, Andrea aborda temas contemporâneos urgentes. Para suas telas, pesquisa as versões originais de contos de fadas e mitos, relacionando-os com acontecimentos e questões da atualidade e tendo como personagens principais crianças, adolescentes e mulheres. Cada pintura ganha uma poesia de autoria da artista, nas quais Rocco cria uma conexão entre real e irreal. Segundo Maria Arminda, “A tensão advinda dessa combinação inusual, produzida pela relação entre imagem e texto, a qual se soma a presença de narrativas míticas, (…), acaba por amplificar as contradições existentes, que ganham radicalidade no modo como a relação entre os gêneros é explorada. (…) um projeto que propõe uma homologia entre linguagens, porém não de modo horizontal, mas que cria gradações, pontos ascendentes e descendentes que se conectam na percepção do espectador”.

Com os bordados, Andrea segue a narrativa de mostrar o lado escondido desse mundo da fantasia. Sobre tecidos herdados de sua família, borda bebês acompanhados de trechos (assustadores) de cantigas de ninar, nos fazendo pensar sobre quão aterrorizantes – e contraditórias – são as melodias que vêm fazendo crianças adormecerem. E, como um respiro, a série Herbarium Possíveis, exibe a catalogação de flores criadas a partir da imaginação e pesquisa da artista, onde por trás de um desenho em cores fluorescentes, existe um convite para pensar novas possibilidades sem tirar os pés do chão. Assim, “Andrea Rocco borda a sua própria linguagem e arquiteta a sua herança”.

Texto: Maria Arminda do Nascimento Arruda