David Almeida (1989, Brasília, DF, Brasil) inaugura a individual Vigília no sábado, 5 de outubro, na Millan. O artista apresenta um conjunto de obras inéditas, nas quais explora formatos e suportes novos. São pinturas sobre tela, madeira e objetos, além de um grande painel que cobre todo o teto do espaço expositivo.
Vigília reúne os desdobramentos mais recentes da pesquisa de Almeida e tem como ponto de partida uma viagem às cidades mineiras de Ouro Preto, Congonhas e Mariana. Nesses trabalhos, o artista se debruça sobre a tradição pictórica brasileira e o modo como ocorreu a adaptação de modelos e visualidades europeias nas condições locais. Conforme escreve Mateus Nunes no texto da exposição, o que move Almeida é “o fascínio de uma sempre híbrida tradição pictórica brasileira, incategorizável por sua contaminação, vulnerável por sua impureza, indomável por seu fervor.”
Nesse processo, o artista também se dedicou a assimilar técnicas e materiais utilizados na produção do século XVIII, como a policromia sacra, a têmpera ovo, o bolo armênio e a goma laca. Sua intenção, no entanto, não se limita à mera reprodução da visualidade barroca. Almeida isola e retrabalha determinados elementos comuns às pinturas de igrejas e capelas, de trabalhos devocionais e de ex-votos, de modo que rocalhas, florões, volutas e outras formas da arquitetura surgem em suas pinturas como vultos.
Para Almeida, interessa a criação artística como um trabalho diligente, uma atividade de penitência. Portanto, mais do que as pinturas das naves e dos espaços ostensivos das igrejas e capelas barrocas, as obras do artista referenciam as pinturas das sacristias — espaços reclusos, restrito aos “trabalhadores” das igrejas. “Ao contrário das pinturas presentes no salão de culto, as sacristias eram compostas por pinturas de santos penitentes”, explica o artista. “Esses personagens parecem habitar paisagens ermas cujo peso e penumbra arriscam esmagar o espectador.”
Essa sensação é transmitida no grande painel que se estende por todo o teto da galeria, composto por cinco pinturas sobre madeira e suspenso a uma altura semelhante àquela do pé direito das sacristias. Aqui, a paisagem se revela em meio às formas vistas nos ornamentos barrocos, insinuados por traços mais rápidos e gestuais.
Sob esse grande painel são dispostos trabalhos tridimensionais que integram e reelaboram uma série de objetos coletados pelo artista durante suas viagens, muitos dos quais atribuídos ao século XVIII e XIX. Tratam-se de moldes de tijolos, chapéus e sapatos, fragmentos de confessionários, oratórios ou altares, além de outras peças sem uma função precisa, que passaram a servir como suporte para novos arranjos escultóricos e pictóricos.
Essa organização da expografia remonta à circulação das naves das igrejas, partindo da entrada até um “altar”, formado aqui por uma pintura feita sobre a cabeceira de uma antiga cama — o que reforça, por sua vez, o caráter onírico de suas obras. Por fim, o artista apresenta um conjunto de pinturas em pequenos formatos que evocam a tradição dos ex-votos. São paisagens nas quais a gestualidade é um traço marcante, emulando a velocidade com que as pinturas devocionais precisavam ser feitas.
“A investigação com intenção genealógica de Almeida parece não versar apenas sobre as imagens que formaram tradições artísticas brasileiras, mas sobre a solidez de uma brasilidade multifacetada e corrente”, afirma Nunes. “Almeida transpõe os ímpetos investigativos concernentes à imagem sobre si, à sua paisagem de peregrinação: a tentativa de compreensão de um ser forjado e permeado pelos fluxos paulistanos, cidade onde vive; pelo cerrado brasiliense, onde nasceu; pelo ficcional sertão nordestino, terra de sua família; e pelo universo imagético mineiro, onde foi arrebatado.”
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