“Corpos Luminosos” de Marina Caverzan na Janaina Torres Galeria

Vista da exposição “Corpos Luminosos” de Marina Caverzan. Via janainatorres.com.br

“Corpos Luminosos”, primeira individual de Marina Caverzan na Janaina Torres Galeria, convida o público a atravessar fronteiras e acessar novas formas de percepção. Com curadoria de Ana Roman e a participação especial de Artur Lescher, a mostra explora a interseção entre espiritualidade, abstração e cultura contemporânea.

Inspirada pelo texto O Mundo Resplandecente, de Margaret Cavendish, do século 17, precursor da ficção científica, a exposição propõe um diálogo entre ciência, filosofia e imaginação, onde “corpos luminosos” emergem como metáfora para expandir os modos de apreensão da realidade.

A mostra conta com pinturas, livro de artista e instalação de Marina Caverzan, além de um conjunto de três esculturas em granito de Artur Lescher, criam um ambiente imersivo onde diferentes linguagens artísticas dialogam com questões filosóficas e metafísicas.

Indicada ao Prêmio Pipa 2023, Marina Caverzan revigora o repertório do abstracionismo geométrico, imprimindo, à racionalidade, o oculto e o simbólico, onde referências à alquimia, matemática e rituais espirituais se encontram. Em suas pinturas e instalações, a artista explora a abstração como um meio para evocar estados de consciência transformadores, nos quais o visível e o oculto coexistem.

Na primeira sala da exposição, intitulada Nave, a artista cria um espaço de travessia inspirado nas Tantra Songs, pinturas tântricas indianas que, através de formas geométricas, induzem à introspecção e à conexão espiritual. Como uma “música visual” de formas e cores, as obras de Marina criam um ambiente vibrante e sensorial, com referências que vão desde divindades hindus até a estética dos videogames, explorando a coexistência de diferentes níveis de realidade e valor cultural.

Ao unir figuras como Sarasvati, deusa hindu do conhecimento e das artes, com Sonic, o veloz personagem dos jogos eletrônicos, Marina sugere uma fusão entre a fluidez espiritual e a velocidade frenética do mundo contemporâneo. Entrelaçando esses elementos, Marina cria uma ponte entre o elevado e o popular, o eterno e o efêmero, e transforma a abstração geométrica em um campo simbólico expandido, no qual as experiências culturais contemporâneas adquirem uma nova ressonância.

A presença de Artur Lescher, que foi professor de Marina na Faculdade Santa Marcelina, é marcada pela escultura Observatório, que ocupa o centro da primeira sala. Trabalhando com granito e formas que sugerem movimento e passagem, Lescher estabelece um contraste entre solidez e transitoriedade, alinhado à proposta de Marina de explorar os limites do sensorial.

“Corpos Luminosos é um convite para que o espectador atravesse fronteiras e experimente novas formas de percepção”, afirma Ana Roman no texto curatorial. “As obras de Marina Caverzan não se limitam a ocupar o espaço físico; elas criam passagens para dimensões alternativas do sentir, sugerindo uma realidade expandida”.

Por fim, na sala seguinte, a atmosfera muda com o Tenebrário, onde a luz é gradualmente reduzida para intensificar a experiência contemplativa. A instalação inédita, Kaminoans, eleva a pesquisa da artista ao território da instalação, ao criar formas luminosas de LED. O título faz referência a uma raça fictícia de Star Wars, habitantes de um planeta aquático com arquitetura futurista, assim como as linhas de luz, em constante movimento, criam uma sensação de transformação contínua, sugerindo uma materialidade quase líquida e etérea. A sala também apresenta um caderno com anotações da artista, um “Grimório”, que traz anotações, esquemas e gráficos compostos pela artista, que apresentam a gênesis de seu trabalho e fazem referência a coleções medievais de feitiços, rituais e encantamentos.