Do interior físico ao simbólico, do idílico pôr do sol do oeste paulista e seus tons rosas e terrosos às lutas antirracistas e feministas, do plácido ao conflito, do terrestre ao celeste. Nesse universo de puras misturas, Renata Egreja celebra processo criativo na exposição Cores do Interior, que abrange os últimos 14 anos de produção. Paulistana de nascimento, Renata cresceu, vive e trabalha no interior do Estado de São Paulo e é reconhecida internacionalmente, com obras espalhadas pela Alemanha, França, Índia, dentre outros países. Em setembro, o projeto, contemplado com o PROAC ICMS de 2022, da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, será lançado no FAMA Museu, em Itu, e, em novembro, terá apresentação no Museu de Arte de Ribeirão Preto (MARP). Também no mês de novembro, Renata se apresenta em exposição individual na Galeria Lume, em São Paulo.
Num percurso que vai do prosaico ao filosófico, a exposição aborda o interior tanto como perspectiva pessoal (o que está no âmago da artista), quanto geográfica (a paisagem à margem dos grandes centros urbanos como inspiração) e histórica (a representação simbólica das cores e a luta feminista para a artista). “É um projeto muito feminino como um todo e que trata da visão sobre diversos conceitos de interior, o interior de si mesma ou o olhar para dentro como estratégia de luta antipatriarcal”, destaca Renata Egreja, que cresceu no meio rural e produz em um ateliê numa fazenda na pequena cidade de Ipaussu, na região Centro-Oeste do Estado de São Paulo, quase na divisa com o Paraná. O ambiente idílico de produção contrasta, contudo, com a metamorfose dos últimos anos na vida pessoal: tornou-se mãe, doula e professora. As questões de gênero e a luta pelos direitos das mulheres tornaram-se constantes em seu trabalho. No seu fazer artístico, Renata reflete sobre ser uma artista mulher diante de uma História da Arte majoritariamente protagonizada por homens. Por isso, reverencia nomes de artistas mulheres – do Brasil – como Beatriz Milhazes, Gabriela Machado, Leda Catunda, Tarsila do Amaral, e do exterior, como a ucraniana-francesa Sonia Delaunay, a inglesa Bridget Riley, as americanas Georgia O’Keeffe e Suzanne Lacy.
Para a exposição no FAMA Museu, no centro histórico da cidade de Itu, Renata separou 18 obras, entre inéditas e destaques dos últimos 14 anos de carreira, que mostram sua rica e multifacetada trajetória. Há suportes variados como pinturas tie-dye, a óleo e acrílica, com pigmentos naturais e sintéticos, como mica e purpurina; aquarelas, cerâmicas e uma instalação imersiva e interativa, que convida pequenos e adultos a se relacionarem de forma mais sensorial com a obra. O “interior” da alma, da vida e do campo se reflete nas obras, buscando uma harmonia entre opostos, da poética (amor, humanismo, maternidade) à política (equidade de gênero e luta antirracista), do rés-do-chão (flores, plantas, sementes, bolo de casamento, ambiente doméstico) ao transcendental (sonhos, utopias, devaneios), do belo ao imperfeito (natureza-morta, manchas e pigmentos aparentes nas telas), do geométrico ao orgânico, do técnico ao intuitivo, da placidez aos conflitos contemporâneos. Em comum, um amálgama de cores, vivas e marcantes.
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