“Conchas e cascas para coletar buracos” no lapa, Lapa

Laura Mallozi, da série Joias de família, 2025. Foto: Chiara Sengberg

As artistas Cris Panariello, Laura Mallozi e Nadira Yanez compõem Conchas e cascas para coletar buracos, exposição sob curadoria de Marina Schiesari que o espaço Lapa, Lapa, na zona oeste de São Paulo, recebe a partir de 12 de setembro. 

Inspirada na teoria de Ursula K. Le Guin sobre o recipiente como tecnologia fundadora da narrativa e da sobrevivência humana, a mostra propõe um desvio da lógica linear e fálica da história para valorizar gestos de acolhimento, cuidado e repetição. Partindo da ancestralidade da coleta e dos objetos que carregam, protegem e armazenam, elas apresentam obras que investigam o corpo como lugar poroso, temporal e marcado pelo gênero.

As esculturas, objetos e instalações reunidos dialogam com o vegetal, o mineral, o orgânico e o cotidiano, compondo uma poética de resistência silenciosa diante do apagamento do feminino. 

Em suas obras, Cris Panariello cria esculturas e instalações de papéis pintados e recortados e constrói relações territoriais a partir do registro das cores, fragmentos da literatura e da natureza, junto a sua pesquisa poética sobre o vazio existencial. Laura Mallozi constrói peças com metal forjado, vestuário e artefatos encontrados, investigando rituais e adornos, o valor atribuído ao que é precioso e o modo como esses elementos atravessam o corpo feminino. Nadira Yanez, por sua vez, desenvolve trabalhos em cerâmica mesclados a outros materiais do cotidiano, que parecem estar sempre em suspensão, no instante anterior à queda ou à transformação, tensionando opostos como frágil e resistente, rígido e maleável

Ao reunir essas três pesquisas, a curadora Marina Schiesari constrói um percurso que entende o recipiente não apenas como objeto físico, mas como metáfora e ferramenta para guardar, proteger e sustentar. A exposição propõe, assim, um espaço de preservação e troca, no qual a repetição, a permanência e o cuidado se afirmam como formas de resistência às narrativas hegemônicas.