Em uma incansável procura na prática de investigar materiais – o que a tornou ao longo de 30 anos uma expoente de sua geração –, e com foco principalmente no campo da tridimensionalidade que envolve corpo, arquitetura e escultura, a artista Marcia Pastore abre a mostra Como produzir tensão, sua primeira individual na Usina Luis Maluf. Sob a curadoria de Ana Carolina Ralston, Pastore apresenta cerca de 50 obras inéditas, reunidas em seis séries nas quais exibe ‘tensão’ como resposta a operações espaciais de suas experimentações.
Já na entrada é possível perceber, e entender, o tema central da mostra onde cintas de amarração para transporte de cargas, criam tensão e espelham o desenho triangular das tesouras que sustentam o telhado da galeria. Ao conectarem ambos os lados das paredes do espaço, as cintas são tensionadas por um peso no chão, formando o triângulo que, além de estabelecer um diálogo com a arquitetura, a obra site specific recria a percepção física e visual do lugar. Para a curadora, “um importante ponto de reflexão sobre a obra de Pastore: sua instigante relação de peso e balanço com o espaço expositivo e a arquitetura que compõem o território que envolve suas produções.”
Na série que dá nome à mostra Como produzir tensão, composta por um vídeo e uma foto, a artista usa o próprio corpo onde enrola suas pernas em um longo fio de nylon que ora por ele apertadas, ora afrouxadas, mostram um obstinado contraponto entre tensão e relaxamento. “O mecanismo contido parece estar em uma busca incessante pela expansão, que marca e recria nossa percepção de espaço em relação à própria carne”, esclarece a curadora. E é na intercorporeidade que Marcia produz outra série, Espaços mínimos. O corpo, outro pilar da produção de Marcia Pastore, também é abordado em sua dimensão performativa, como prova essa série na qual formas abstratas surgem a partir de moldes dos vazios entre partes do corpo, da ausência, originando pequenas peças em bronze que flutuam sobre placas de cerâmica dispostas no chão do mezanino da galeria. Buracos nessa superfície criam sistemas de encaixe com tais peças, porém não se tocam, articulando em suspenso as materialidades contrastantes. “Tal equilíbrio favorece a sensação de gravidade e reforça a relação entre positivo e negativo, molde e contramolde, cheio e vazio, equação sempre presente na expressiva pesquisa da artista”, esclarece a curadora.
Pastore nos convoca a perceber relações fundamentais em sua produção, como positivo e negativo, molde e contramolde, vazio e cheio, côncavo e convexo, mobilidade e imobilidade. Relações, essas, que podem ser abordadas sobre diferentes perspectivas pela artista, conforme nos revela a exposição. A dualidade, afinal, parece nos lembrar Marcia Pastore, é aquilo que introduz tensão em seus trabalhos. A linha, por sua vez, também permeia a série ‘Ponto de contato’, desenvolvida desde 2022. Os cortes de placas são sobrepostos – uma branca sobre um preta – e unidos por pontos de bronze, que articulam a forma, fazendo emergir ‘linhas’ – o corte na placa branca com o preto ao fundo, faz parecer uma linha – que atravessam a composição. A disposição desses elementos não é arbitrária, não surge do acaso, mas reencena posições e gestos realizados pela própria artista em relação ao plano da parede. Carol Ralston finaliza: “Seu trabalho torna-se um instigante acordo entre as vontades da artista e do próprio material trabalhado. A tensão se expande pela tridimensionalidade de obras propostas a levar o espectador ao confronto com o próprio corpo e a inevitável passagem do tempo, da perda e da transformação.”
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