Vista por 85 mil pessoas em uma curta temporada de três meses, na Caixa Cultural Recife, a exposição individual Comigo Ninguém Pode – A pintura de Jeff Alan, exibe as feições, texturas e tons retintos de personagens reais do cotidiano popular do Recife, retratados em 40 obras do artista visual pernambucano que nasceu e cresceu no Barro, na periferia da capital pernambucana. Agora, a mostra chega à Caixa Cultural Rio de Janeiro, a partir do dia 21 de fevereiro. A mostra tem entrada gratuita e fica aberta até 14 de abril. O projeto tem patrocínio da CAIXA e do Governo Federal, sob a gestão e produção da Fervo Projetos Culturais.
Na abertura, o artista Jeff Alan e o curador Bruno Albertim também fazem uma visita mediada numa conversa com o público sobre os significados da produção das obras e processo de criação. O bate-papo começa às 18h30. No dia 22, às 17h, eles recebem o público para a segunda visita mediada.
Entre as obras selecionadas pela curadoria de Bruno Albertim, as pinturas de pessoas pretas preenchem as molduras dos quadros dando a elas o protagonismo que historicamente lhes foi negado, um traço político que fundamenta a trajetória artística de Jeff. A narrativa da exposição individual do artista tem completa relação com o Rio de Janeiro e o cotidiano das favelas.
“Hoje a gente vê a explosão do figurativismo negro e periférico. Esse rosto que aparece nas obras é o mesmo rosto negro que foi silenciado durante anos no Rio de Janeiro. A gente ficou muito surpreso com o diálogo estabelecido com o público. Agora, no Rio, a gente espera encontrar espectadores que esteja ansioso por entender que estamos querendo mudar a curva da construção das identidades visuais”, diz Bruno Albertim, curador da mostra.
Nos 40 trabalhos figurativos presentes na exposição em dimensões diversas, em acrílica sobre tela e desenho sobre papel, Jeff Alan retrata o cotidiano e o movimentar das ruas por onde passam personagens que protagonizam sua obra. O próprio nome da exposição também fala desse lugar. “Comigo Ninguém Pode” é o nome popular de uma planta comum nos terraços ou calçadas das casas no bairro onde vive Jeff. “Serve como um amuleto. Dizem que quando a planta está ali evita os olhares de azar para aquela residência”, conta o curador.
Jeff é daltônico e pinta desde a infância motivado pela sua mãe, Lucilene Mendes. É no Barro, onde vive e mantém seu ateliê, na Zona Oeste do Recife, e em outras comunidades periféricas que ele encontra seu material poético. A dedicação em usar seus pincéis evidencia os traços estéticos das gentes simples que compõem o tecido urbano de áreas vulnerabilizadas.
“Eu sou um artista de periferia. Nasci e me criei nas quebradas. É onde eu quero viver, respirar e vivenciar, é de onde vem minhas referências, onde meu coração pulsa mais forte. Eu preciso estar nos lugares onde vivem famílias pretas. Quero dialogar com a juventude preta e periférica do Rio, que tem tantos sonhos em comum com a juventude de outros lugares semelhantes do Brasil. Sabendo que no Rio tem tantos artistas pretos com proposta de trabalho parecida é bem importante “, diz Jeff Alan.
O artista já teve obras expostas em países como França e Inglaterra e conquista cada vez mais atenção do público e crítica, despontando como um dos principais nomes das artes visuais do Estado e do mercado de arte contemporânea brasileira.
A exposição contará com legendas em braile e QR code com a audiodescrição das peças, que destacam os traços e biotipos de crianças, jovens e adultos negros que entrecruzam o caminho do artista.
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