Clarissa Tossin, “Future Geography: The Five Galaxies of Stephan’s Quintet”, 2022. Foto: Brica Wilcox
O MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand apresenta Clarissa Tossin: ponto sem retorno, exposição que reúne mais de 40 obras das últimas duas décadas de produção da artista brasileira. Mais do que retratar a crise climática, Clarissa Tossin (Porto Alegre, 1973) incorpora em seus trabalhos resíduos, objetos e materiais que se tornam testemunhos do colapso ambiental. Em cartaz de 10 de outubro a 1 de fevereiro de 2026, a mostra é a primeira individual da artista em um museu brasileiro.
Com curadoria de Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP, e Guilherme Giufrida, curador assistente, MASP, a exposição foi concebida como uma grande instalação imersiva. “A sensação é a de que o museu alagou e montamos a mostra com aquilo que sobrou para expor. É como se o público estivesse visitando um museu pós-apocalíptico. Clarissa é uma artista contemporânea, conceitual. Tem muitas obras na escala real, um para um, resultando em uma mostra com uma dimensão bastante imersiva”, afirma Guilherme Giufrida.
A mostra reúne reflexões sobre catástrofes ambientais que atingiram Porto Alegre, local de nascimento da artista, e Los Angeles, nos Estados Unidos, cidade onde ela mora atualmente. Comissionada pelo MASP, a obra Volume Morto (2025) foi feita com tinta produzida com terra de três localidades que sofreram com as enchentes no Rio Grande do Sul: Cidade Baixa, Sarandi e Eldorado do Sul. A intervenção, pensada para as paredes da galeria expositiva, recria as marcas horizontais de lama que ficaram estampadas nas construções após as inundações. Além de relembrar o alagamento de enormes proporções que tomou conta do estado gaúcho em maio de 2024 — mesmo período em que foi iniciada a pesquisa para esta exposição —, a instalação também remete aos rastros deixados em Mariana, em 2015, e Brumadinho, em 2019.
Já a obra de Clarissa Tossin intitulada You Gotta Make Your Own Worlds [É preciso criar seus próprios mundos] (2019) foi destruída pelos incêndios que devastaram a Califórnia em janeiro deste ano. A obra pertencia a um casal que morava há 33 anos na mesma residência e acabou perdendo todos os bens nas chamas. O nome do trabalho de Tossin é retirado de um trecho do livro A parábola do semeador, de Octavia E. Butler, publicado em 1993. Na trama distópica que se passa em 2024, os Estados Unidos são governados por um presidente autoritário, e queimadas atingem a Califórnia, levando refugiados climáticos a migrarem. No lugar da obra, a exposição apresenta uma marca na parede do tamanho original da peça e uma legenda explicativa, como um texto de um obituário daquele objeto.
Tossin também discute as causas e os efeitos do aquecimento global, traçando conexões entre sinais de sofrimento dos corpos humanos e não humanos. Essa preocupação é vista na obra monumental Death by Heat Wave (Acer pseudoplatanus, Mulhouse Forest) [Morte por onda de calor (Acer pseudoplatanus, Floresta de Mulhouse)] (2021), em que galhos e troncos de uma árvore que morreu por conta de uma onda de calor na Floresta de Mulhouse, na França, se espalham no chão da mostra em meio a outras obras de arte.
“São obras fantasmagóricas, mortas-vivas, resquícios de paisagens pós-humanas. Os trabalhos em exibição criam mapas, protótipos, rastros de uma aparição humana momentânea e efêmera e do que foi possível reter dessa existência. A artista está produzindo a partir desse mundo em que a materialidade, o lixo, os resquícios humanos vão deixar alguns rastros daquilo que aconteceu com o mundo. É quase como se ela estivesse olhando para aquilo que no futuro arqueólogos vão observar: fósseis do futuro”, diz Giufrida.
Outra vertente da pesquisa de Tossin reflete sobre como a cartografia foi fundamental para a colonização das Américas, e como as imagens de satélite tornaram possível a busca por água e minerais em outros planetas. São paralelos entre os processos históricos de exploração territorial e as atuais ambições de colonização espacial. Sobrepostos a mapas coloniais ou entrelaçados a imagens de telescópio, caixas e envelopes da gigante do e-commerce Amazon também agregam uma camada de reflexão sobre o consumo de massa.
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