“Cerol” de Fabricio Lopez na Galeria Marilia Razuk

Fabricio Lopez, Budas da várzea (III). Crédito: Ana Pigosso / Divulgação

A Galeria Marília Razuk apresenta a exposição Cerol, do artista Fabricio Lopez. Em cartaz de 17 de agosto a 28 de setembro de 2024, a mostra faz referência ao cerol, artifício usado para empinar pipa, uma memória afiada da infância do artista. A mesma mão que um dia foi cortada pelo cerol é agora a que corta e escava a madeira na xilogravura.

Fabricio Lopez tem um trabalho expressivo nessa técnica, caracterizado pela produção em grande formato e pela abordagem pictórica das camadas e cores na impressão manual. Cerol apresenta uma antologia do trabalho recente do artista, incluindo xilogravuras em papel kozo da série Budas da Várzea, inspirada na obra de 1939 Dois Bodhisattvas e Dez Grandes Discípulos de Buda Sakyamuni (Nibosatsu Shaka judai deshi), do mestre japonês Munakata Shikô, celebrando a fusão entre a tradição da xilogravura e uma perspectiva contemporânea.

Munakata Shikō (1903-1975), renomado artista japonês, tornou-se conhecido por seu domínio da xilogravura, assim como Fabricio Lopez. O artista oriental combinava técnicas tradicionais de gravura com temas ligados ao zen-budismo, acreditando que a criação artística era a manifestação da força e beleza da natureza, já presente no bloco de madeira usado na xilogravura. Nas obras de Fabricio, essa presença da natureza também é evidente, com traços figurativos que sugerem rostos, cabeças e membros, se assemelhando a galhos, raízes e troncos, numa fusão harmoniosa entre natureza e indivíduo.

O processo de criação de suas xilogravuras as torna únicas, utilizando várias placas de madeira para criar uma trama de sobreposições em diferentes formatos na obra final. Seus Budas, inspirados na série de Munakata, interagem entre si, gerando novas criaturas ainda mais conectadas à natureza.

A exposição também apresenta quatro xilogravuras em formatos maiores, que, segundo o próprio Fabricio, são impressas a partir de matrizes perdidas. Cada imagem resulta da gravação e impressão sucessiva da mesma chapa de madeira sobre o mesmo papel até o limite físico da matriz. Os títulos das obras, como Carcaça, Um sopro firme e gentil através do corte e Nós em duas estações (eu e ela), sugerem novas narrativas, possivelmente de inspiração mais pessoal, assim como nas obras de Munakata. Cabe ao visitante decifrar essas histórias ao explorar Cerol, a partir de 17 de agosto.