Candice Lin e Mario Ishikawa na Almeida & Dale

As duas exposições inauguram o programa “Perspectivas Transoceânicas”, que será anual e voltado para a produção artística na diáspora asiática, coordenado pelo curador Yudi Rafael

Com uma ênfase geográfica no continente americano, o título do novo programa de pesquisas e exposições da Almeida & Dale – Perspectivas Transoceânicas – alude ao papel das rotas e fluxos transoceânicos que conectaram o mundo Atlântico e o Pacífico na construção da modernidade global e dos dilemas do presente. Para inaugurar, foram escolhidas pelo curador duas mostras individuais simultâneas de Candice Lin e Mario Ishikawa.

Em sua individual Candice Lin: Hospitalidade aos fantasmas , a artista apresenta instalações multissensoriais, vídeos e esculturas em que investiga momentos nos quais as linguagens racializadas borram as distinções entre pessoas e coisas. Lin trabalha com materiais como a porcelana e o ópio, mercadorias coloniais que impulsionaram o comércio global e as empreitadas imperialistas europeias, e se debruça sobre histórias a eles entrelaçadas como a da figura esquecida do coolie – termo pejorativo atribuído aos trabalhadores de origem chinesa ou sul-asiática traficados como mão de obra para plantações da América durante o século XIX, quando se vislumbrava a transição entre os regimes de trabalho escravo e livre no continente. Trata-se de sua primeira individual no Brasil.

Já em Mario Ishikawa: Sítio arqueológico , o recorte proposto nasce de um conjunto de esculturas em madeira e desenhos de fuligem, produzidos entre os anos 1980 e 2010, quando Mário volta sua atenção para a dimensão cíclica do tempo da natureza, passando a trabalhar com matéria orgânica e a interação de elementos como o fogo, a terra e o ar. Suas esculturas são produzidas sobretudo com galhos de árvores de seu quintal, e seus desenhos constituem espécies de sumi-ê , em que o veículo passa a ser o ar e não mais a água. Nesses trabalhos, Ishikawa reelabora em seu presente urbano as memórias da infância na zona rural – da fabricação artesanal de utilitários, do preparo de alimentos, da reutilização de materiais e do uso de lamparinas a querosene – estabelecendo associações entre biomorfismo, erotismo e violência.