Diferentes olhares, mas com foco na natureza e cultura oriundas de suas origens diversas, inspiram as criações dos artistas Bú’ú Kennedy e Sofia Lotti para a próxima exposição na Galeria Luis Maluf, no Jardins, a partir de 29 de agosto. “Bu’ú Kennedy e Sofia Lotti: o encantamento da memória gráfica e pictórica” reúne a força da cultura contemporânea indígena pelas mãos do amazonense Bú’ú em uma ‘conversa’ coordenada e inédita com a abstração de imagens da mineira Sofia. Sob a curadoria de Diego Matos, a mostra segue em cartaz até 30 de setembro.
Bu’ú Kennedy (1978, Alto Rio Negro, São Gabriel da Cachoeira, Amazonas) traz em sua produção em marchetaria a potência da arte contemporânea indígena, fiel à tradição e aos conhecimentos de sua origem advinda do povo Ye’pamahsã, conhecido como Tucano. Já Sofia Lotti (1991, Poços de Caldas, Minas Gerais) promove uma renovação de algumas técnicas clássicas da arte – desenhos, pastéis, pinturas e tapeçarias – por meio de um exercício permanente de representação e, também, de desconstrução da ideia de paisagem. São trabalhos que apontam apuros técnico-poéticos, produzidos tanto na madeira trabalhada por Bu’ú quanto nos traços e formas dos desenhos e da tapeçaria de Sofia. “Em tempo das crises do antropoceno, ambos devotam o olhar para a natureza e nos restauram o encantamento por ela”, pontua o curador.
Cerca de 25 trabalhos, alguns inéditos, entre marchetarias e representações ilustradas, permeiam o espaço da Galeria e se portam de forma a convidar para uma percepção além da imagem. “Ao alcance de nossas vistas, cada obra instalada evoca o repertório de ambas as práticas artísticas, nos apresentando uma memória gráfica e visual de suas experiências cotidianas, quase que como numa translação, um caminho mais elíptico e menos óbvio: poderemos ver as riquezas visuais guardadas pela memória do Bu’ú ativadas em seus rituais de cura e as paragens visitadas pela Sofia mundo afora e por ela subvertidas, do interior de Minas Gerais a Noruega”, conta Diego.
As dicotomias encontradas nas respectivas obras como realidade e sonho, delírio e razão, memória e registro, representação e abstração, promovem um exercício plástico-visual de entrelaçamentos da riqueza paisagística e gráfica da vida em contato com a natureza, seja em sonho seja na experiência despertos. Não há conforto ou apaziguamento, mas um real ponto de contato entre essas práticas poéticas que é exatamente o oposto desse sentimento presente na superfície: uma espécie de vertigem visual, um desdobramento da força visionária da arte. Diego explica: “Não falo aqui da vertigem como uma patologia, descrita em sintomas, mas de um estado de consciência capaz de poder ver uma paisagem (ou mesmo uma miragem) de forma apurada, sempre atento ao fato de que aquilo que se posta diante dos olhos não está imune ao movimento que a passagem do tempo registra.”
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