O que fazer com o luto, a raiva, a dor, o inconformismo? Com grande parte de sua família executada pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, Boris Lurie (1924-2008) passou a vida dedicado à construção de uma obra plástica irrequieta e inquietante. Um conjunto importante de seus trabalhos é apresentado pelo Museu Judaico de São Paulo, dando sequência a uma série de exposições realizadas pela Europa, Estados Unidos e América Latina. Com curadoria de Felipe Chaimovich e desenvolvida com apoio da Fundação que leva o nome do artista, Boris Lurie – Arte, Luto e Sobrevivência percorre seu legado por meio de 44 colagens, desenhos, pinturas e esculturas pautados pela memória dos acontecimentos e atravessados por um forte componente erótico, às vezes sadomasoquista. Nascido em Leningrado, Rússia, no ano de 1924, Boris viveu sua infância e adolescência em Riga, Letônia. Em 1941, sua mãe, a avó materna, a irmã caçula e sua primeira namorada foram assassinadas após a prisão num campo de evacuação. Lurie e seu pai, por sua vez, passaram pelos campos de trabalho de Lenta e Salaspils e pelos campos de concentração de Stutthof e Buchenwald-Magdeburg e sobreviveram a Shoah. Libertos em 1945, emigraram para os Estados Unidos. Foi em Nova York, para onde emigrou com ajuda de uma irmã mais velha, que Lurie iniciou a formação artística que lhe permitiria dar novas formas à memória. Esse processo se faz sentir, por exemplo, em O Retrato de minha mãe antes do fuzilamento, de 1947, uma evocação da figura materna e obra-chave em seu percurso de luto/criação. A partir dela, a figura da mulher se torna permanente em sua obra, assim como a estrela de Davi amarela – elemento que marcava pessoas judias durante o regime nazista e que o artista continuou a usar na sua roupa após emigrar para os Estados Unidos. “Boris Lurie produziu quadros e objetos com a estrela amarela, inclusive usando peças de roupa íntima, como cuecas e corseletes”, escreve o curador, assinalando a indissociabilidade entre morte e desejo na obra do artista. “Negando-se a esquecer, sua indumentária continuava a testemunhar uma sobrevida impacificável”, complementa Chaimovich.
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