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“Arqueologias Migrantes” de Liene Bosquê na Janaina Torres Galeria

10 agosto -10:00 até 28 setembro -18:00

Liene Bosque, vista da exposição “Arqueologias Migrantes” na Janaina Torres Galeria. Foto Filipe Berdnt

De 10 de agosto a 28 de setembro a galeria Janaina Torres, sediada em São Paulo, apresenta Arqueologias Migrantes, exposição individual inédita de Liene Bosquê, artista visual brasileira, radicada nos EUA há 16 anos. A mostra celebra os 20 anos de carreira da artista, com um panorama da produção de Bosquê, em um recorte de sua investigação sobre memórias, narrativas e pertencimento, a partir do patrimônio arquitetônico das grandes cidades, sob a perspectiva da condição de artista estrangeira.

Para a exposição, a curadora Cristiana Tejo, também brasileira e residente em Portugal, selecionou obras produzidas de 2003 até este ano, que refletem memórias sobre metrópoles intimamente ligadas à história da artista. Fragmentos de cidades como São Paulo, Miami, Lisboa e Nova Iorque transmutam-se em 50 ítens que compõem séries e obras, em uma ampla gama de suportes e materiais, resultando em instalações têxteis, monotipias com ferrugem, cianotipias, gravuras em metal, peças em couro, cerâmicas, esculturas em tecido e papel, vídeo, além de site specific especialmente produzido para evidenciar o espaço fronteiriço entre a galeria e a rua.

A pesquisa de Liene, que também é arquiteta, tem como pedra fundamental a busca por uma ancoragem territorial, perpassada por sua vivência como artista migrante.Liene mudou-se para Portugal em 2005 e para os EUA em 2008, residindo em Chicago, Nova Iorque e, estabelecendo-se, há seis anos, em Miami. Durante grande parte de sua carreira, voltou o olhar para extratos do patrimônio arquitetônico, localizando indícios de memórias em edifícios, construções, escombros, ruínas ou demolições. Sua investigação assemelha-se ao processo arqueológico, quando busca desnudar camadas de significados em elementos que sintetizam a essência do lugar.  O fazer de suas obras, ora de maneira individual (em ateliê ou fora dele), ora coletivamente (nas ruas de diferentes cidades, conduzindo grupos em experiências artísticas participativas), busca captar o corpo em movimento refletido no patrimônio histórico urbano. Embora utilize formatos e materiais variados, o processo é quase sempre o mesmo: Liene utiliza o processo manual de impressão para gravar o volume, ornamentos de fachadas, fragmentos de grades ou portões, coleta de ferrugem das superfícies e outros elementos que apontem para a identidade do território. “A intenção é tangibilizar memórias individuais ou de grupos que habitaram ou habitam aquele ambiente, criando obras, a partir de detalhes negligenciados do cotidiano, transformando o mundano em monumental.” Comenta Liene.

Na exposição é possível observar a recorrência de materiais que, por si, contam a história e espírito do tempo de uma época, como ferro que forjou construções urbanas a partir do início do século XIX e ainda hoje dá o tom ao pensamento desenvolvimentista, sua velocidade, opulência e rigidez refletidas nas construções das grandes cidades. Em contraposição, Liene utiliza suportes delicados como tecido e papel, materiais que reafirmam a manualidade humana como protagonista da história. Liene também evidencia elementos naturais e suas fricções no contexto dos grandes aglomerados populacionais, quando, por exemplo, traz a argila para processos manuais de coleta de impressões pela cidade ou utiliza a luz do sol para revelar suas cianotipias, ou ainda quando realiza a extração de ferrugem para séries de instalações têxteis. Liene instiga a reflexão sobre a correlação entre a cidade, a história, a memória, deslocamentos humanos e a conexão pessoal com os lugares. Seu trabalho reafirma a busca pelo pertencimento, inerente ao ser humano, e agravada na condição de migrante que, muitas vezes, tende a vivenciar de maneira mais acentuada problemáticas das grandes cidades, como a especulação imobiliária, a gentrificação, o desemprego e a própria xenofobia.

Ainda no tocante à experiência migratória, o público poderá observar, na mostra, referências aos desafios impostos pelas fronteiras (territoriais ou não), refletidas nas estruturas limítrofes como portões, grades ou janelas de edificações icônicas, que carregam significado histórico, de memória coletiva e de pertencimento (ou exclusão), como, por exemplo, o parapeito do elevador Santa Justa (Lisboa), as grades do presídio Carandiru (São Paulo) ou da 14th Street, em Manhattan. Por outro lado, poderá compartilhar de memórias individuais, pessoais e afetivas de cidadãos de diferentes origens, nas peças expostas como resultado de proposições participativas, em formato de caminhadas coletivas realizadas por Liene em diversas cidades do mundo, incluindo as da performance Coletando Impressões, realizada no centro de São Paulo, em 2018.

Liene está, excepcionalmente, em residência artística na cidade de São Paulo, para a produção das últimas peças da exposição, no Massapê Projetos (no bairro de Santa Cecília) – experiência viabilizada pelo prêmio “Summer Artist Access Grant Award FUNDarte and Miami-Dade County Department of Cultural Affairs”. As obras finais da exposição estão sendo produzidas a partir da vivência de Bosquê na região central da capital paulista, e trazem agora a perspectiva do olhar, quase que estrangeiro da artista, sobre a cidade onde cresceu. A busca por indícios que devolvam a sensação de pertencimento à Liene estabelece um paralelo ao sentimento comum aos migrantes das diversas partes do mundo, que diariamente, desembarcam nas grandes metrópoles sendo obrigados a construir novas memórias, significados e a própria história.

Detalhes

Início:
10 agosto -10:00
Final:
28 setembro -18:00
Categoria de Evento:
Website:
https://janainatorres.com.br/arqueologias-migrantes-individual-de-liene-bosque/

Local

Janaina Torres Galeria
Rua Vitorino Carmilo, 427 - Barra Funda
São Paulo, SP Brasil
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