Anselm Kiefer na White Cube Londres

Em Anselm Kiefer – Finnegans Wak, as novas pinturas, esculturas e instalações do artista respondem (ou seja, lutam e transformam) o romance de James Joyce, de 1939. Kiefer leu o escritor irlandês pela primeira vez quando era jovem, devorando Ulisses (1922) e embarcando em uma relação lenta e espiralada com o posterior e mais exigente Finnegans Wake. É um livro de círculos e ecos, mais ou menos óbvios ou secretos; seu movimento fluvial começa no meio das coisas e volta para si mesmo na página final. O romance parece conter todas as palavras, todos os pensamentos, todas as histórias. Da mesma forma, as obras que Kiefer reúne aqui estão repletas de motivos e materiais vistos em outros lugares de sua arte. Há campos de escombros e arame, girassóis esqueléticos, a hélice de DNA, a serpente ouroboros que come a própria cauda. Concreto, cobre, vitrines de vidro, livros ilegíveis feitos de chumbo, inscrições joyceanas em todos os lugares. É como se a própria linguagem se tornasse um material, um meio escultural. Finnegans Wake às vezes é tratado como um monumento ou ruína literária – radical, mas não lido. Mas observe ou leia em voz alta uma única página (talvez até mesmo uma única frase ou palavra) e você descobrirá que ela contém uma profusão de trocadilhos, referências e invocações. Até 70 idiomas estão presentes, assim como inúmeras culturas: entre elas, egípcia, irlandesa, nórdica e islâmica. O trabalho de Kiefer sempre foi alimentado por uma infinidade de fontes escritas: poéticas, filosóficas, religiosas, científicas. Mitologia nórdica, metafísica alemã, a poesia de Paul Celan e Ingeborg Bachmann: escritos tão diversos coabitam no espaço ou tempo da obra. Com Joyce, Kiefer evoca um escritor que entrelaça o passado e o futuro da linguagem em uma única obra. Como se o tempo em si não existisse, como se Joyce tivesse sido influenciado por Kiefer. Anselm Kiefer – Finnegans Wake completa uma trilogia de exposições na White Cube Bermondsey, em Londres. Que em 2016, apresentou Walhalla e em 2019 Superstrings, Runes, The Norns, Gordian Knot.