“Amass” de Rune Christensen na Kristin Hjellegjerde Gallery

Vasos de cerâmica, xícaras, potes e urnas, tigres balançando suas caudas, tigelas de frutas, flores e plantas verdes exuberantes. A mais recente série de pinturas do artista dinamarquês Rune Christensen compreende arranjos coloridos de objetos e padrões, retirados da coleção em seu estúdio, de suas viagens ao redor do mundo, de memórias pessoais, referências históricas e de sua imaginação. Amass, sua exposição individual na Galeria Kristin Hjellegjerde em Wandsworth, nos leva a uma jornada através do tempo e do lugar. Cada obra, como um gabinete de curiosidades, nos oferece um vislumbre do mundo que o artista sonha e habita.

Christensen raramente planeja suas composições, preferindo ver o que emerge na tela. Como resultado, cada uma de suas obras incorpora uma vasta gama de referências a diferentes culturas, histórias e crenças, que são unificadas pelo estilo gráfico distinto do artista e pela paleta de cores controlada. Ele se refere às obras desta última série em particular como “tapetes” ou “tecidos”, nos quais múltiplas camadas de informações ou histórias são tecidas em uma única superfície. Esse efeito é intensificado pela borda padronizada que emoldura quase todas as pinturas de Christensen, criando uma estética quase de livro ilustrado que nos encoraja a ler a imagem por seus próprios termos e dentro do reino da imaginação.

Enquanto essas obras mais recentes fazem referência à história da pintura de natureza morta, bem como à tendência contemporânea das redes sociais para o design de nossos espaços domésticos, o desconexão da realidade é importante: é isso que permite a Christensen colocar um tigre na prateleira de um armário ao lado de um cacho de uvas roxas. Os tons de cor fluorescente, uma marca registrada da paleta do artista, contribuem para a atmosfera de outro mundo, enquanto também complicam nosso sentido de tempo. Esses flashes vivos de laranja, lembrando a estética ousada do grafite, parecem surpreendentemente contemporâneos, enquanto os muitos recipientes padronizados que permeiam o trabalho de Christensen refletem as tradições artesanais e os modos antigos de viver. Como Christensen observa, “Os humanos criaram vasos como uma forma de armazenar comida e água, nos permitindo afastar-nos da caça e coleta. De forma semelhante, a pintura atua como um recipiente para minhas experiências e uma libertação.”

Incomumente para Christensen, não há figuras em nenhuma dessas pinturas, mas uma presença humana espectral permanece ao redor da disposição dos objetos. Cada “coisa” foi dada um lugar para criar uma ordem ou efeito visual específico. “A disposição das coisas – objetos, tempo, família, relacionamentos – é um processo de compreensão, mas também de progresso, nos permite passar de uma coisa para a próxima,” diz Christensen. Ao mesmo tempo, a desordem das plantas – as maneiras como as folhas caem pelas prateleiras ou os caules dos girassóis se curvam e se dobram em posições desconfortáveis – talvez aponte para a impossibilidade de controle absoluto. De forma semelhante, as pinturas de Christensen podem parecer de longe apresentar uma imagem de perfeição, mas em uma inspeção mais próxima, os traços de pincel se tornam visíveis, assim como os sutis vazamentos de cor. É nessas imperfeições que descobrimos momentos surpreendentes de beleza, harmonia e autenticidade.

As pinturas de Christensen são, como todas as imagens, curadas para contar uma história ou evocar uma atmosfera específica, mas também são obras da imaginação, uma série de fragmentos ou começos que são oferecidos ao espectador para que eles os reúnam em sua própria narrativa.