A exposição Cópia Fiel, individual de Alexandre Frangioni, com curadoria de Rejane Cintrão, traz a reflexão do artista sobre as implicações da globalização na sociedade atual, as relações antagônicas entre questões também contemporâneas como qualidade e custo, sustentabilidade e produtividade, pobreza e riqueza, autenticidade e cópia. “Ele toma slogans de marketing que vemos todos os dias, mesmo que estejam implícitos das mais diversas maneiras, e dá um outro contexto para eles”, diz a curadora, que escreve em seu texto de apresentação: “Alexandre Frangioni vem desenvolvendo, desde 2018, uma ampla pesquisa que propõe uma reflexão sobre as implicações da globalização na sociedade atual. O que, afinal, a globalização trouxe de positivo para o mundo? A pasteurização das diferentes e ricas culturas de diversas regiões mundiais? O consumo exacerbado de produtos que, na maioria das vezes, não precisamos? Ou o crescimento nas diferenças sociais? A série Made in China foi realizada nestes últimos anos como uma crítica bem-humorada à sociedade atual, moldada pelo consumo que põe em xeque a preservação da natureza, das diferentes culturas e dos seres que habitam nosso planeta. A repetição da frase Made in China produzida com obsessão por Frangioni é a mesma que encontramos em milhares de produtos que consumimos, muitos deles “cópias fiéis” de marcas de roupas e acessórios inacessíveis para a maioria da população mundial, produzidos em larga escala por pessoas que vivem em extrema pobreza na China e na Índia. ‘A atitude de Frangioni diante de ideias que podem ser difíceis de serem conceituadas pode resumir-se na seguinte frase: ele transforma ideias complexas em algo tão eficiente e simples como uma imagem’, escreve o crítico Christian Viveros-Fauné no livro One Art History, publicado em 2021 reunindo diversos trabalhos do artista. Ou seja, ele toma slogans de marketing que vemos todos os dias, mesmo que estejam implícitos das mais diversas maneiras, e dá um outro contexto para eles. O ser humano utiliza, há séculos, a repetição de símbolos, códigos e ícones como forma de impor culturas, religiões ou hábitos. Na arte religiosa da idade medieval e renascentista, a repetição de fatos ocorridos na religião cristã é utilizada para divulgar a Igreja, haja vista que o crucifixo é um dos símbolos que mais se repete na história e em nosso cotidiano ao longo de mais de 2 mil anos. Não existe uma marca, objeto ou logotipo que tenha superado o uso deste símbolo até hoje. Já a arte contemporânea, desde o artista francês Marcel Duchamp (1887-1968), tem como objetivo justamente trazer um outro contexto ou lugar para esses símbolos, ícones e objetos. Este fato é notável nas obras apresentadas nesta mostra, assim como as relações antagônicas entre questões também contemporâneas como qualidade e custo, sustentabilidade e produtividade, pobreza e riqueza, autenticidade e cópia. Essa mostra com mais de 30 trabalhos de Frangioni reúne engradados de madeira que são, minuciosamente, redesenhados, copiados e refeitos à frase Made in China, escrita à maneira da Coca-Cola e impressa em etiquetas que são, ‘copias fiéis’ àquelas coladas nas garrafas do refrigerante, todos realizados artesanalmente, quer por meio de colagem, pintura, desenho, bordado ou mesmo impressão, técnicas milenares da arte. Neste sentido, seu trabalho se afasta do ‘objeto encontrado’ tão presente na arte contemporânea mundial.”
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