Lenora de Barros + Madeeeeira, “Resetar” (maquete). Foto: Mayra Azzi
Se as margens dos rios são ambientes propícios à ocupação humana desde tempos ancestrais – tanto pelas possibilidades de deslocamento e comunicação que os cursos d’água oferecem quanto pelo fornecimento do recurso mais fundamental para a vida na Terra –, as águas são um ponto de partida para compreender as dinâmicas sociais e políticas do espaço urbano moderno e contemporâneo. As metamorfoses das grandes cidades nos últimos séculos podem ser estudadas à luz da complexa relação entre natureza e interesses políticos.
Em São Paulo, o Rio Pinheiros passou por transformações entre os anos 1930 e 1970, com a retificação de seu curso d’água, a construção de represas e usinas e de vias marginais. Hoje, o rio passa por outro ciclo de transfiguração, com grandes empreendimentos imobiliários sendo implementados em suas franjas.
O que esse rio nos diz sobre as relações entre as cidades e as águas? Pode um rio sobreviver às grandes cidades? Perguntas como essas são lançadas pelo projeto Águas Abertas, reunindo instalações artísticas que problematizam e instigam o debate sobre a vida dos rios na cidade de São Paulo, no Brasil e no mundo. A abertura acontece no sábado 9 de agosto, das 12h às 17h, no Parque Linear Bruno Covas, às margens do Rio Pinheiros.
Com curadoria de Gabriela de Matos e Paula Alzugaray e curadoria adjunta de João Paulo Quintella e Raphael Bento, a iniciativa articula intersecções entre arte, meio ambiente e cidade, ocupando os 8 quilômetros do Parque Bruno Covas, na margem oeste do rio Pinheiros, entre a Ponte Cidade Jardim e o projeto Pomar Urbano em São Paulo. É uma oportunidade de atrair novos públicos ao Parque e marcar as conquistas graduais do programa de despoluição do rio, que vem sendo executado desde 2019 pela Sabesp, patrocinadora do projeto. A identidade visual é de Namibia Chroma.
Nas palavras das curadoras, Águas Abertas tem o intuito de investigar e experimentar as possibilidades da arte de abrir novas perspectivas relacionais entre a cidade e suas dimensões hídricas.
“Contrapor-se à tensão dialética entre natureza e cultura, que estruturou o pensamento antropocêntrico ocidental, e deixou como legado a crise climática extrema, é um movimento necessário em um presente de urgências. […] O projeto busca criar uma rede de ideias navegáveis, considerar como um rio e uma cidade podem sair modificados de um projeto que se propõe um laboratório de pensamento e imaginação, tendo a arte como agente; imaginar a terceira margem do Rio Pinheiros.”
A colaboração entre Cinthia Marcelle e o escritório de arquitetura vão é um exemplo de como as relações entre natureza, cidade e suas populações podem ser abordadas a partir de uma instalação de forma orgânica e relacional. O grupo fez incursões ao Jardim Panorama, comunidade lindeira do Rio Pinheiros, que é separada de um condomínio de luxo por um grande muro.
Partindo dessa situação e referindo-se ao cerceamento entre populações de poderes aquisitivos diversos, Cinthia Marcelle e vão criaram uma barricada de blocos cerâmicos na faixa verde do Parque Bruno Covas em que a vegetação é escassa e possibilita visualizar o Jardim Panorama ao fundo. Esse muro-instalação é feito sem argamassa, permitindo que os moradores da comunidade retirem os blocos cerâmicos empilhados mediante agendamento com a produção, para construírem paredes de moradias e comércios em vez de muros de contenção.
Também Keila-Sankofa partiu da relação com populações ribeirinhas, dessa vez com pessoas da etnia Pankararu que moram nas imediações do Rio Pinheiros, para criar sua obra, composta de performance, intervenção, fotografia e vídeo mostrando um ritual afroindígena em relação com as águas.
A exposição apresenta ainda instalações assinadas por Coletivo Coletores, Day Rodrigues, Lenora de Barros e Lúcio Ventania (informações completas abaixo).
Encabeçada por duas curadoras, a seleção privilegiou artistas mulheres, subvertendo a tradição de construção de monumentos públicos simbólicos do patriarcado, fosse por seus realizadores ou pela representação de feitos associados a figuras masculinas.
As/os artistas são de cidades como Belo Horizonte (Cinthia Marcelle), Santos (Day Rodrigues), Manaus (Keila-Sankofa), Ravena/Sabará (Lúcio Ventania), ou de regiões periféricas de São Paulo (Coletivo Coletores).
Águas Abertas tem patrocínio da Sabesp por meio da Lei de Incentivo à Cultura – Lei Rouanet, com realização do Ministério da Cultura e do Governo Federal.
Local: Parque Linear Bruno Covas
Margem oeste do Rio Pinheiros, entre Ponte Cidade Jardim e Ponte João Dias
Principal acesso pela Usina São Paulo (ver abaixo)
Segunda a domingo, das 10h às 17h – Grátis
Acessos:
Usina São Paulo – acesso à direita pela via expressa da Marginal Pinheiros na altura do Shopping Cidade Jardim (estacionamento para veículos); Passarela flutuante Usina São Paulo – interligação com a Ciclovia Franco Montoro (ciclistas), horário de funcionamento da Passarela das 5h30 às 19h; Ponte Cidade Jardim (pedestres e ciclistas); Projeto Pomar Urbano – Av. Guido Caloi n° 551 – JD. São Luiz (pedestres e ciclistas); Ponte João Dias (pedestres e ciclistas); Ponte Laguna (pedestres e ciclistas); Passarela Global – acesso pela via local da Marginal Pinheiros, defronte ao empreendimento Parque Global (pedestres, ciclistas e estacionamento para veículos), horário de funcionamento do Estacionamento das 6h às 19h; Passarela flutuante Parque Global – interligação com a Ciclovia Franco Montoro (ciclistas), horário de funcionamento da Passarela das 5h30 às 22h (no momento a passarela encontra-se inoperante por conta de obras do Metrô em Santo Amaro na margem leste da Ciclovia Rio Pinheiros)
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