Amarrar um laço entre os dedos para lembrar o que não deve ser esquecido. A força do nó desacelera o fluxo sanguíneo, vasos se contraem e se espremem na esperança de que o segredo confiado ao elemento físico que envolve o corpo nos encontre no futuro. Se a história é um grande laço de lembrança, podemos imaginar uma teia de fios e nós — complexos e em constante expansão —, cujas pontas soltas e linhas aparentes desafiam a perspectiva de um trajeto único, fazendo de tais nós cegos menos um desafio da descoberta do percurso do que a contemplação do emaranhado geral. Esse parece ter sido um dos maiores desafios contemporâneos para a revisão da relação do humano com a história, com a natureza, com a vida e com as epistemes.
Em “Misterioso Laço”, Gilson afirma seu desejo de habitar a abstração fundamentado em uma relação ampla e direta com o mundo e seus materiais. Parte de uma nova geração de artistas que busca revisitar a história brasileira e trabalhá-la segundo uma ordem da experiência fenomenológica da diferença.
Sua prática orienta novas configurações de sentido que ultrapassam a mera exposição crítica das mazelas sociais, em seu lugar tomam forma proposições de experimentação artísticas orientadas sobre o respeito às sabedorias e tecnologias ancestrais, capazes não só de re-encantar o nosso mundo, mas de criar outros.
A artista Yasmin Guimarães constrói paisagens que ora flutuam por horizontes instáveis e movediços, ora fazem pouco caso de uma verosimilhança com o natural. Mais interessada no aspecto fenomenológico da impressão retiniana da cor em um relevo imaginário, Yasmin faz da dureza da luz tropical o tônus de sua pintura. Refletindo sobre as cores que banham os trópicos em que vive e por onde habitam suas primeiras lembranças de paisagem, a paulistana substitui os tons alaranjados e quentes por uma paleta de cores fria, e assim estabelece com o espectador um encontro honesto, indispensável para a sua obra.
Atraída pelo vazio, suas elaborações pictóricas parecem mais afeitas à construção da natureza sob um cânone visual oriental que, sob a influência do taoísmo, reflete sobre o entorno com a representação da vitalidade das formas e seu movimento rítmico demarcado pelo contorno do pincel, na busca por abstrações que sugiram o extrafísico. A criação surge como possibilidade de revelar o vazio. Contrasta, assim, com os ideais ocidentais, cuja perseguição por uma forma plástica orgânica ainda retém vestígios em nossa maneira de vivenciar o mundo, tanto na pintura como no regime de imagens técnicas, em um completo horror ao vazio.
Texto curatorial de Lucas Albuquerque
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