A Flexa, galeria de arte baseada no Rio de Janeiro, abrirá sua segunda exposição, intitulada “A noite dos clarões: ecos do surrealismo e outras cosmologias”, no dia 24 de agosto de 2024. A coletiva reúne artistas de diferentes gerações, buscando um diálogo com uma série de discussões contemporâneas, à luz de questões exploradas pelo movimento Surrealista. A mostra tem curadoria de Luisa Duarte, diretora artística da Flexa, e assistência curatorial de Pedro Caetano Eboli.
A noite dos clarões: ecos do surrealismo e outras cosmologias
Por que visitar, hoje, os ecos do surrealismo? Por que nos aproximarmos, agora, de cosmologias alternativas ao marco ocidental, ou seja, de modos outros de organizar a realidade compartilhada? Diversos diagnósticos recentes nos recordam que vivemos uma época marcada pelo embotamento da imaginação, pela diluição da dimensão corpórea no trato com o mundo, pelo solapamento da esfera do sonho e pela resistência ao diálogo com as diferenças. Diante deste contexto, dimensões como erotismo, delírio, sonho e alteridade, todas mobilizadas pelo legado surrealista e reimaginadas no interior daquilo que chamamos de “outras cosmologias”, ganham uma atualidade central. A segunda mostra coletiva da Flexa cobre um arco temporal cujo início remonta à década de 1920 e segue até o presente, de modo a reunir artistas com produções que se relacionam, de diferentes maneiras, com tais questões.
Ao contrário de uma compreensão difundida dos surrealistas, não lhes interessava tanto fabular um mundo fantástico paralelo ao nosso, sendo mais importante instaurar pontos de fratura na realidade corrente, que contribuíssem para estranhar a naturalidade de todas as coisas. Este movimento, cuja expressão dissemina-se da literatura para as artes visuais, propõe formas críticas de pensar e experimentar a realidade, motivo pelo qual suas propostas ainda nos fornecem subsídios para compreender o presente. A mostra desloca certas narrativas históricas que consideram escassa a repercussão do movimento surrealista no Brasil, destacando como seus procedimentos poéticos continuam a ecoar na arte contemporânea do país. Ao mesmo tempo, coloca em cena algumas das diferenças entre o contexto histórico em que o surrealismo surgiu e o momento atual, observando as mutações sociais e culturais ocorridas desde então.
A exposição é dividida em quatro momentos. São eles “Erotismo e morte”, representado por artistas como Tunga, Waltercio Caldas, Ismael Nery, Maria Martins, Julia Gallo, Maria Lídia Magliani e Flávio de Carvalho. “Universo dos sonhos e atividade onírica”, na qual estão reunidos nomes como Cícero Dias e Rayana Rayo. “Zonas do delírio”, que exibe trabalhos de Yayoi Kusama, Manuel Messias dos Santos e Darcílio Lima. E ainda “Alteridade e outras cosmologias”, onde são postas em diálogo obras de Chico da Silva, Maria Lira Marques, Claudia Andujar, Hélio Melo e Jaider Esbell, entre outros.
A primeira parte do título da exposição foi extraída do Primeiro Manifesto do Surrealismo, publicado há exatos 100 anos por André Breton (1896-1966). A imagem de uma noite capaz de abrigar o dia, contida no fragmento “a noite dos clarões”, sublinha a importância do trânsito entre a lógica do sonho e a lógica da vigília, como uma via para transmutar nossa relação com isso que se convencionou chamar de ‘realidade’. Neste bojo, propõe diálogos com os esforços recentes para suscitar a emergência de narrativas oriundas de cosmologias alternativas ao marco ocidental, dado presente no subtítulo da exposição.
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