A Casa de Cultura do Parque inaugura o II Ciclo Expositivo de 2024 com três mostras inéditas
3 agosto - 11:00 - 13 outubro - 18:00
No sábado, dia 3 de agosto, a partir das 14h, a Casa de Cultura do Parque convida todo o público para a abertura de três exposições inéditas que trazem artistas de diferentes gerações, apresentando obras em diversas mídias e criadas especificamente para os espaços da Casa. Reunindo nomes como Carla Chaim, Marcelo Amorim, Nino Cais, Lenora de Barros, Rosângela Rennó, Leda Catunda, Flora Leite e Mano Penalva, as mostras marcam o II Ciclo Expositivo de 2024 e ficam em cartaz até o dia 13 de outubro.
A Vingança do Arquivo – Carla Chaim, Marcelo Amorim e Nino Cais convidam Leda Catunda, Lenora de Barros e Rosângela Rennó
A exposição “A Vingança do Arquivo”, na Galeria da Casa de Cultura do Parque, é uma convite dos artistas Carla Chaim, Marcelo Amorim e Nino Cais que, como curadores, convidam as artistas Lenora de Barros, Rosângela Rennó e Leda Catunda para um grande diálogo entre suas produções. A mostra é acompanhada por um texto crítico inédito da curadora e pesquisadora Ana Roman.
As práticas de Carla Chaim, Marcelo Amorim e Nino Cais, embora diversas em suas trajetórias, compartilham uma sensibilidade comum aos objetos do mundo, unindo-os pela apropriação.
Nesta exposição, o arquivo é o ponto de partida, e cada artista também atua como curador, convidando outro artista para expandir o diálogo. Nino Cais convida Leda Catunda, que ressignifica objetos cotidianos; Carla Chaim convida Lenora de Barros, explorando corpo e escrita; e Marcelo Amorim convida Rosângela Rennó, que recontextualiza imagens. Juntas, suas obras questionam a autoridade documental dos arquivos e expressam a contínua busca dos artistas por ressignificações, iluminando vestígios do passado sob novas perspectivas.
Ana Roman observa:
“A vingança dos arquivos se apresenta, em certa medida, como uma mistura entre a apropriação e a dobra de elementos inscritos no passado, que se tornam objetos de fabulação de futuro; ou ainda pode ser compreendida como o desaprendizado das práticas e das categorias fundamentais às lógicas de dominação que regem os arquivos. Os artistas reunidos na exposição são, de alguma maneira, desobedientes a essas lógicas e posicionam-se como investigadores da nossa cultura visual. Eles trabalham a partir do desvio.”
“A Vingança do Arquivo” propõe uma reflexão profunda sobre a memória, o esquecimento e a reinvenção, convidando o público a reconsiderar a natureza dos arquivos e a autoridade das narrativas históricas.
Sonâmbula – Individual de Flora Leite
“Sonâmbula” ocupa o Gabinete da Casa de Cultura do Parque e revela a poética singular de Flora Leite através de obras que exploram os limites entre matéria, objeto e a intangibilidade.
Com trabalhos que capturam a atenção para o que é aparentemente invisível e efêmero, a individual de Flora Leite inclui obras como “Chaminé”, uma torre de cigarros Marlboro empilhados, e “Celeste”, um aparelho óptico que projeta a luz atmosférica no chão. Em “Alguma coisa, coisa nenhuma”, a artista transforma a poeira recolhida em uma galáxia no piso da Casa, invertendo a célebre frase “Somos todos poeira de estrelas”. A mostra também inclui “Núcleo, magma, crosta”, onde um pedaço de pão percorre o elevador da casa, em um movimento que reflete a combinação de repouso e deslocamento.
A poeta Julia de Souza, em seu texto crítico que acompanha a mostra, observa que as obras de Flora Leite transitam entre o concreto e o abstrato, provocando reflexões sobre a natureza das coisas e a linguagem. Ela escreve:
“O sentido das coisas nunca é estanque — e tampouco são estanques as próprias coisas”.
“Sonâmbula” é um convite à imersão no universo poético de Flora Leite, que desafía o espectador a olhar para o cotidiano com novos olhos, a perceber a beleza e a poesia nos detalhes mais sutis e a refletir sobre as fronteiras entre o tangível e o intangível.
Crepom – Instalação de Mano Penalva
Inspirado pela memória afetiva de sua avó, que lhe ensinou a fazer flores de papel crepom, Mano Penalva celebra os saberes transmitidos pelo corpo e pelo afeto. A instalação “Crepom”, criada especialmente para o “Projeto 280×1020” da Casa de Cultura do Parque, é composta por uma videoperformance, um canal sonoro e dois grandes murais que lembram lousas, adornados com babados de crepom branco.
Penalva evoca a educação convencional, com elementos que remetem à autoridade do professor e à organização normativa do alfabeto, para, em seguida, questionar essa estrutura. A instalação sugere que o conhecimento é transmitido também pela matéria, desafiando a separação entre intelecto e corpo, arte e artesanato, masculino e feminino, escrita e oralidade.
A curadora e pesquisadora Mariana Leme, em seu texto crítico que acompanha a mostra, contextualiza “Crepom” dentro da história da arte ocidental, marcada pela divisão entre natureza e cultura, arte e artesanato.
“Uma educação pela pedra, ou pelas flores, pode significar uma bem-vinda contaminação cultural, para que possamos aprender da matéria, e reconhecer que também somos feitos dela.”
Mariana Leme ressalta que a instalação de Penalva busca reparar essa fratura, resgatando uma educação pela materialidade e pela beleza das coisas. Através de suas flores de crepom, Penalva chama a atenção para a importância de uma educação que valoriza o contato com a matéria e a beleza, em contraste com a primazia do intelecto que dominou a história da arte ocidental.
Penalva nos convida a aprender com a matéria, a reconhecer nossa conexão com ela e a valorizar os saberes que atravessam gerações. A exposição é uma oportunidade de refletir sobre nossas próprias práticas educacionais e culturais, promovendo uma contaminação cultural bem-vinda e necessária.