Entrevistamos o artista brasileiro acusado de roubar o Museu Britânico

Roubo, performance ou truque de mágica? Entenda como Ilê Sartuzi bombou nas notícias internacionais por ter enganado o Museu Britânico

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Documentação fotográfica de Sleight of Hand (2024), por Ilê Sartuzi. Cortesia do artista.

Você ouviu falar do brasileiro que conseguiu driblar a segurança do Museu Britânico, o mais tradicional museu histórico de Londres?

Nas últimas semanas o roubo de um item valioso por um imigrante tem sido noticiado na imprensa internacional. Na verdade, essa foi uma ação proposta por Ilê Sartuzi, um artista brasileiro estudando na Goldsmiths, University of London, na Inglaterra, que apresentou seu trabalho final de mestrado no último mês.

Depois de um ano de planejamento para trocar uma moeda de lugar dentro do British Museum, a ação teve repercussão na mídia, o que adicionou ainda mais camadas à obra, chamada “Sleight of hand” [Truque com a mão]. A primeira notícia a respeito da ação foi redigida por um amigo do próprio artista para a Hyperallergic, que planejou a repercussão como parte da ação coordenada.

Em 18 de junho deste ano, Sartuzi entra no Museu Britânico com uma réplica da moeda de prata de 1645 no bolso. Ele se aproxima da mesa com objetos táteis – que participam do projeto “hands on” (em mãos) do museu desde o ano 2000 – e pede para para manusear a “siege coin” (moeda de cerco). Como um mágico enganando os observadores, o artista distraiu os funcionários do museu para poder realizar a troca e foi gravado por amigos. O artista teve essa ideia no momento em que entrou na sessão de moedas do museu pela primeira vez, assim que chegou em Londres.

Sartuzi nunca saiu do museu com a moeda, mas foi taxado como ladrão frente à imprensa global. Em entrevista com a AQA, ele diz ter percebido uma mudança no comportamento da guarda da instituição ao retornar ao museu sem sua barba. Assessorado por seu advogado, o artista escolheu um lugar inusitado para devolver o item museológico: na caixa que recebe doações espontâneas dos visitantes, na porta da instituição.

Ilê Sartuzi estuda teatralidade e ilusionismo há quase 10 anos, mas não se limita às categorias das artes. Para ele, sua ação aparentemente simples, guarda certa ironia: roubar de um museu sem nunca deixar o prédio com o objeto roubado, sendo o próprio acervo da instituição formado ao longo de séculos de exploração de outras culturas. Não sair do museu em posse do objeto foi uma recomendação do seu advogado, que o aconselhou durante todo o processo.

A moeda é em si um símbolo de poder, assim como a prata, mas Sartuzi já sabia que trocaria réplica por fac símile, uma falsificação por um objeto de mediação. Um gesto discreto foi capaz de revelar as camadas em jogo nas Artes Visuais, como cada poder está colocado, desde as instituições históricas – caso do Museu Britânico,  mas também da mídia, que repercutiu a ação de formas diversas.

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