Waltraud Lehner é uma renomada artista feminista austríaca, de 1940, que emergiu de uma sociedade cada vez mais midiatizada. Criada até seus 14 anos de idade em um convento, ela ficou conhecida por sua pesquisa poética transgressora. Nesta, o corpo está inseparavelmente ligado à sua representação nos meios de comunicação de massa, questionando criticamente a equação entre imagem e realidade e aponta para as estruturas patriarcais que se inscrevem dolorosamente as mulheres.
Aos vinte e oito anos, Waltraud mudou seu nome para VALIE EXPORT, em letras garrafais, inspirada pelo nome de uma popular marca de cigarros chamada Export. Ela buscava uma nova identidade que não fosse vinculada ao nome de seu pai (Lehner) ou ao nome de seu ex-marido (Hollinger) para anunciar sua presença na cena artística vienense, que era dominada pelos polêmicos Acionistas. Regido exclusivamente por homens, como Günter Brus, Otto Mühl, Hermann Nitsch e Rudolf Schwarzkogler, o Acionismo Vienense se caracterizava por performances provocativas e, muitas vezes, violentas, com o objetivo de chocar a sociedade e explorar os limites do corpo humano e da arte. Nesta mesma direção, EXPORT vai além e adota uma perspectiva feminista pioneira.
Um de seus icônicos trabalhos, “Action Pants: Genital Panic”, se deu em um conjunto de seis cartazes idênticos que mostram EXPORT segurando uma metralhadora e vestindo uma calça cujo corte expõe sua genitália. Encarando diretamente o espectador, para quem ela aparentemente está pronta a fuzilar, a artista questiona o papel de mulher passiva e vulnerável, o que fez da obra objeto de lenda histórica da arte apócrifa.
Já em “Tap and Touch Cinema”, igualmente notável, a artista caminhou pelas ruas de 10 cidades europeias, entre 1968 e 1971, propondo aos pedestres que tocassem seus seios através de uma caixa. Em outra performance, chamada “From the portfolio of doggedness”, também de 1968, ela caminha pelas ruas levando seu então parceiro, Peter Weibel, numa coleira.
Vale lembrar, que sua produção abriu os debates sobre consentimentos e controle numa época em que o assunto ainda era inédito, quando ainda nem sonhavam em interseccionalidade no feminismo e viam a “liberdade sexual” como radicalismo e caminho de empoderamento.
Apesar de ser mais conhecida pelos seus trabalhos sobre gênero, EXPORT já cruzou outras relações temáticas partindo de seu corpo. É o caso de “Body configurations”, onde a artista tenta se ajustar fisicamente às paisagens urbanas para chamar atenção para a cultura conformista da Áustria no período Pós-Guerra.
Todas as obras citadas aqui estão presentes na exposição “VALIE EXPORT. Retrospective” no Museu Albertina, em Viena. Perpassando diversas temáticas, a exposição oferece um panorama da produção de EXPORT entre 1966 e 1998, com um foco especial sobre a relevância da fotografia para sua obra. Utilizada das mais diversas formas, a linguagem desempenhou desde sempre um papel central, seja como documentação, experiência, parte de instalações multimídia ou como obra em si. EXPORT, inclusive, encenou algumas de suas apresentações especialmente para serem fotografadas.
Serviço
VALIE EXPORT. Retrospective
Local: Museu Albertina
Endereço: Albertinapl. 1, 1010 Wien, Austria
Data: Até 01 de outubro de 2023
Funcionamento: Aberto todos os dias, das 10h às 18h, com exceção das quartas e sextas, quando permanece aberto até às 21h.
Ingresso: $14,90 – $24,90
