Nascida na aldeia de Paranaguá, no sul do Brasil colonial, Liberata era filha de pais escravizados – talvez africanos. Nasceu por volta de 1780. Pertenceu a Custódio Rodrigues e aos 10 anos foi vendida a José Vieira Rabello que começou a abusar sexualmente da jovem Liberata nesta mesma época. Em 1793, Liberata teve um filho com o mestre ( aos 13 anos). Começou aí uma longa luta por sua liberdade e pela de seus filhos que chegaram a ser reescravidos!
A pintura de Liberata é uma das 24 telas da individual de Dalton de Paula que abre hoje na galeria Alexander and Bonin, em NY. Cada retrato pintado vem acompanhado da história de um personagem afro-brasileiro que nunca foi retratado visualmente durante sua vida ou postumamente – há a representação de nomes já lendários como Chica da Silva, Chico Rei ou João Candido. Dalton visitou o Quilombo Alto do Santana, em Goiás, e fotografou os residentes para usar como base dos retratos. Ele incluiu roupas e cabelos típicos da época e detalhes sobre a vida deles, apresentando suas individualidades e nos oferecendo uma contra-narrativa que difere das representações predominantes da população negra no Brasil.
Com fundos azul-esverdeados, detalhes em dourado nos cabelos e o nariz sempre destacados, os personagens ganham uma potência ainda mais impressionante quando colocados juntos – apesar de potentes como indivíduos. Na montagem, o artista achou por bem deixar um texto sobre a história de cada personagem para o público norte-americano se familiarizar com suas histórias. Uma belíssima e importante pesquisa.