A gigante Art Basel organiza 3 feiras anuais – em Hong Kong, abrindo o ano; na Suíça, em junho; e em Miami, encerrando o calendário. Desde a explosão da crise do coronavírus, porém, galerias de todo o mundo vem questionando a viabilidade de se manter a realização do evento inaugural de 2020 no sudeste asiático. No perfil em uma rede social da galeria Renspace, de Shanghai, os últimos posts trazem prints de artigos sobre como os expositores estão preocupados com o não posicionamento dos organizadores da feira, além de um print de um email do galerista britânico Richard Nagy, questionando a permanência da feira e pedindo bom senso aos diretores da Art Basel para por fim à incerteza de sua realização.
As tensões vem se acirrando porque as feiras internacionais de arte representam uma bela fatia da receita dos médios e grandes dealers do mundo. Por outro lado, representam também um alto valor de investimento – é preciso pagar a metragem do estande, alugar móveis, realizar o transporte especializado, tirar apólices de seguro, mobilizar funcionários, arcar com hospedagem e outros custos de viagem. Se a feira em questão não é oficialmente cancelada e a galeria se depara com a decisão de participar ou não ir, terá de arcar com multas e prejuízos.
Por isso, a demora da Art Basel em se posicionar vem causando revolta entre players do mercado. Algo similar ocorreu há alguns anos, quando organizadores da ZONAMACO decidiram manter a abertura para convidados VIP na noite após um terremoto devastador atingir a Cidade do México. Galerias locais e museus foram afetados, mas a abertura continuou como se nada tivesse acontecido.
Desde o ano passado os protestos em Hong Kong contra a ingerência política da China e as possíveis extradições de dissidentes já vem afetando o calendário programado do território autônomo, mas não o suficiente para que os diretores da Art Basel suspendessem a feira. Com o alastramento da epidemia do coronavírus, agora, galeristas do mundo inteiro vem se pronunciando na expectativa que a feira seja cancelada, principalmente depois da confirmação da primeira morte entre os contaminados que estão em HK.
Em verdade, não haveria mesmo condições de se manter a sua realização – os principais colecionadores, público-alvo principal da feira, não se arriscarão a viajar para um local em risco de contaminação, ainda por cima considerando o volume de visitantes. Em 2019, a Art Basel Hong Kong atraiu um público de mais de 70 mil pessoas em 5 dias de funcionamento. Isso significa que as recomendações de não sair de casa, de evitar grandes aglomerações e de quarentena tornam a situação absolutamente inviável. As galerias, ainda que pressionadas pelo fator financeiro, também não arriscarão a viagem para um local de foco do vírus. O público em geral, por fim, definitivamente não vai querer se aventurar por lá.