Hoje o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand inaugura uma das exposições brasileiras mais aguardadas deste ano: a mostra Paul Gauguin: o outro e eu. Com curadoria de Adriano Pedrosa, Fernando Oliva e Laura Cosendey, a exposição reúne 40 obras, entre pinturas e gravuras, e discute de maneira crítica a relação do artista pós-impressionista com a ideia de alteridade e da exotização do “outro”.
Nascido em Paris, Gauguin dedicou-se, sobretudo, à pintura, sendo considerado uma figura emblemática na história da arte por destacar-se das convenções pictóricas do século 19. Viveu parte de sua infância no Peru e foi somente aos 35 anos que passou a se dedicar exclusivamente ao trabalho artístico. Passou algumas temporadas em regiões da França, como Bretanha e Arles, onde conviveu com o artista holandês Vincent van Gogh durante os intensos meses em que dividiram um ateliê.
Frustrado com a cena artística da metrópole parisiense e passando por dificuldades financeiras, o artista nutria o desejo de partir em busca de outra experiência de mundo, na qual pudesse aliar sua pintura a um imaginário para além dos padrões da cultura europeia. Foi assim que Gauguin viajou ao Taiti, na Polinésia Francesa, em 1891 e, após um intervalo de dois anos em Paris, retornou ao Pacífico para lá permanecer até a sua morte, em 1903, nas Ilhas Marquesas.
Conheça mais sobre o artista por meio de quatro obras icônicas da mostra:
Autorretrato (perto do Gólgota), 1896
Na obra adquirida pelo MASP em 1951, o artista retrata-se com características semelhantes à figura de Jesus na história da arte: com cabelos longos e túnica azul claro, e localizado próximo ao calvário, como enunciado no título da obra. Soma-se a esses elementos o seu “perfil inca”, sempre demarcado em seus autorretratos, acentuando os traços retos de seu nariz – identidade reivindicada por ele, que não se identificava como um típico artista parisiense.
Duas Mulheres Taitianas, 1891
Nessa tela, uma mulher de frente segura uma bandeja com pedaços de manga madura junto aos seus seios desnudos, e ao seu lado outra mulher exibe um dos seios ao espectador. Esta foi uma das primeiras pinturas do artista a ser questionada criticamente a partir de um ponto de vista feminista. No início dos anos 1970, a historiadora de arte americana Linda Nochlin usou uma sátira para questionar o aspecto machista da pintura, ao colocar a obra ao lado de uma fotografia de um homem nu, posando com um prato de bananas junto a seu pênis.
Pobre pescador, 1896
As influências egípcias e japonesas também surgem na combinação de imagens de referências artísticas e fotográficas de Gauguin, o que é evidenciado nesta obra. A personagem central foi retirada de uma representação do faraó Seti I em um dos relevos do Templo de Abidos, sendo representada de perfil e com um gestual geometrizado. No que concerne à vista ao fundo, o artista foi influenciado pelas composições das gravuras ukiyo-e japonesas, “empilhando” as camadas da paisagem no sentido vertical da composição, além de trazer um tratamento característico da mesma visualidade para elementos naturais, como as montanhas e o quebrar da espuma das ondas do mar. Há outro elemento que adiciona mais uma camada às citações: “Pobre pescador” também era o título de uma pintura de 1881 feita por Puvis de Chavanne, uma referência na pintura europeia, da geração anterior a de Gauguin.
O fim real, 1892
Esta obra é bastante distinta das demais produzidas por Gauguin no Taiti. No lugar do exuberante e sensualizado imaginário sobre os povos do Pacífico, a pintura alude à “natureza violenta” de povos que estariam permanentemente em guerra, uma visão racializada difundida por descrições etnográficas que circulavam na Europa no século 19. A cabeça está depositada sobre um assento tradicionalmente atribuído aos chefes de Estado e a obra coincide com a morte do último rei taitiano, Pomare V, mas a cena não corresponde aos relatos reais do funeral, porque o corpo não foi decapitado. A figura agachada aparece em obras anteriores do artista: seus gestos retorcidos se referem a uma múmia peruana que Gauguin vira no Musée Trocadéro, em Paris.
Serviço
Paul Gauguin: o outro e eu
Local: MASP
Endereço: Avenida Paulista, 1578 – Bela Vista, São Paulo – SP
Data: De 28 de abril a 06 de agosto de 2023
Funcionamento: Terças, das 10h às 20h (entrada até as 19h); quarta a domingo, das 10h às 18h (entrada até as 17h).
Ingresso: R$30 – R$60, terças grátis e agendamento online obrigatório pelo link masp.org.br/ingressos