No apagar das luzes de 2022, a turma artsy ganhou uma bela distração: a Netflix lançou Glass Onion: Um Mistério Knives Out, um filme de mistério, com deliciosos toques de sarcasmo, dirigido por Rian Johnson, costurado por clássicos da História da Arte que atuam hora como protagonistas, hora como coadjuvantes da trama.
A sequência de Entre Facas e Segredos que entrou para o top 10 histórico da Netflix nos leva para maio de 2020 e tudo está fechado por causa da pandemia da COVID 19. Em meio ao período de tédio, o milionário excêntrico Miles Bron (Edward Norton) convida, por meio de um conjunto de caixas de quebra-cabeça, um grupo de amigos para sua espalhafatosa mansão à beira-mar, por motivos que permanecem obscuros até que eles cheguem lá. O motivo? Eles precisam descobrir quem irá assassiná-lo naquele final de semana. Entre os amigos, um convidado inusitado com ajuda do detetive particular Benoit Blanc (Daniel Craig).
Os personagens conversam e tomam seus drinks rodeados por obras presentes, hoje, em grandes museus como Louvre, MoMA, Tate, entre outros. Mas poucos nomes dos artistas são citados, exceto por Philip Glass, que criou um som para a casa, e Banksy – responsável por assinar o pier de entrada da mansão. Num dado momento alguém anuncia que acabou de ver um Matisse no banheiro.
Miles é claramente um colecionador extravagante, mas um pouco óbvio demais. Quem reconhece as obras logo percebe que os nomes são fortes: pense em obras de Cy Twombly, Lucian Freud, Mark Rothko, Matisse, Roy Lichtenstein, Picasso, Gustav Klimt, Edgar Degas, David Hockney, Jean-Michel Basquiat, Piet Mondrian, Jeff Koons, Francis Bacon e Philip Guston.
Mas para Miles, arte é apenas um adereço usado para exibir sua riqueza. O diretor faz questão de mostrar sutilmente que o colecionador não faz ideia de nada colocando, por exemplo, o Rothko de cabeça para baixo. A ideia aqui é questionar o quanto os colecionadores milionários estão realmente envolvidos com arte ou só compram para esbanjar.
Prova disso envolverá (sem spoilers aqui!) a grande dama da noite, ninguém menos que Mona Lisa. Depois do jantr, eles se reúnem no átrio da casa, onde ficam diante da pintura de Leonardo. “Por que você penduraria uma impressão da Mona Lisa na frente e no centro? É como pendurar um pôster do Che no seu quarto.”, diz a governadora Claire Debella (Kathryn Hahn), com uma taça de champanhe na mão.
Mas logo ela precebe: é a Mona real oficial na sua frente! Mas como ela foi parar ali? Miles explica: “O Louvre estava fechado, a França precisava de dinheiro, então comprei um pequeno empréstimo de curto prazo. Mas o transporte e a segurança foram a maior parte do custo. Veja isso.” Ele segura um isqueiro e o acende, e um escudo de repente cobre a pintura – tipo de segurança que poderia acionar diante de sopas de tomate ou purê de batata.
O AQA incorporou o detetive Benoit, mas não para descobrir o mistério da morte do magnata, e sim de quem são as obras que aparecem no cenário do filme. Algumas telas foram inspiradas em estilos ou obras marcantes desses artistas, atuando como pistas falsas para o nosso jogo! Há uma tela que mostra uma figura que olha para um emaranhado de canos, entranhas e mãos semelhantes às telas de Philip Guston, mas a obra não existe. Em outro momento os produtores fazem um mix de uma imagm do personagem de Edward Norton em Fight Club e um famoso autorretrato de Lucian Freud. “Nós só queríamos nos divertir e fazer nossa própria arte. Contratei um ilustrador com quem trabalhei muito, James Carson”, revelou Rick Heinrichs, designer do filme, no site do canal.
Mas eles também fizeram réplicas de obras existentes para deixar tudo um pouco mais confuso. Confira abaixo algumas o que identificamos ao longo da trama: