Conheça 12 artistas que falam sobre maternidade

Desde os autorretratos de Élisabeth-Louise Vigée-Le Brun com filha, em 1789, até o retrato que Panmela Castro fez da artista Monica Ventura em 2021 – confira como a maternidade foi retratada ao longo da História da Arte

por Beta Germano
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Monica Ventura por Panmela Castro
Monica Ventura por Panmela Castro

Gerar um ser humano é um processo muito potente e certamente inspirador. Não à toa, muitas mulheres artistas falaram sobre e experiência da maternidade ao longo da História da Arte: as transformações do corpo; a conexão mágica com a criança; o afeto único e sincero; a amamentação como tabu; os desenvolvimentos  psicológicos e os traumas; os momentos cotidianos de troca singulares; e as simbologias das mulheres provedoras de uma nação – há muito em jogo para ser discutido e questionado por meio da arte. Tudo isso somado à dificuldade de seguir a carreira de artista em paralelo ao ofício “mãe”.  Listamos aqui algumas artistas que trouxeram a maternidade para o centro de seus trabalhos.  Desde os anos 1700, com os autorretratos de Élisabeth-Louise Vigée-Le Brun abraçando docemente sua filha, até os dias de hoje muito bem representados pelo belíssimo retrato que Panmela Castro fez da artista Monica Ventura.

Mas elas não são as únicas a falar sobre o assunto, muitos artistas usaram a própria mãe como musa inspiradora, caso de Salvador Dali, Lucian Freud, David Hockney e Flávio de Carvalho. Na nossa lista, ressaltamos o trabalho de um artista homem, No Martins, por ele fazer mais que uma homenagem à própria mãe. Ele celebra todas as “mães pretas” nutriram e cuidaram de brancos e negros em todo o Brasil por séculos. Elas merecem. 

Elisabeth Louise Vigée Le Brun, Self-Portrait with Her Daughter Julie (à l’Antique), 1789
Elisabeth Louise Vigée Le Brun, Self-Portrait with Her Daughter Julie (à l’Antique), 1789

Élisabeth-Louise Vigée-Le Brun, 1700s 

Pintora oficial da rainha Maria Antonieta, Elisabeth Vigée Le Brun pintou muitos autorretratos, incluindo  Self-Portrait with Her Daughter Julie (à l’Antique), de 1789. Nesta pintura, ela está sentada em um banco enquanto sua filha Julie se inclina em seu corpo, e os braços da mãe e da filha se circundam. Os rostos e os gestos comunicam o afeto comum entre uma mãe e sua filha. A cena íntima era pouco comum da época –  marcada por grandes pinturas heróicas, com temas mitológicos ou retratos oficiais onde as mulheres usavam vestidos extremamente elaborados. A pose de Vigée Le Brun com a filha cria uma composição triangular que lembra a Madona e o menino de Raphael em The Small Cowper Madonna. Esse triângulo também pode ser visto como símbolo da união das duas como um único ser. Na obra de Rafael, os braços do menino Jesus circundam o pescoço de sua mãe e as cores vermelho, azul e verde predominam. 

Um ponto importante nessa obra, aliás, é a escolha do vestido de um ombro só que lembra os trajes gregos usados na antiguidade – como o próprio título da obra indica, o drapeado usado pela artista cria uma conexão com o período clássico – ela quer mostrar que o sentimento do afeto é algo universal e atemporal  Há, ainda, uma informalidade que tinha uma dimensão política numa pintura feita pouco antes da Revolução Francesa por uma artista bem sucedida entre a aristocracia e a realeza de todo o mundo.

Como uma mulher artista na França do século XVIII, Elisabeth Vigée Le Brun teve que trabalhar mais duro para obter acesso à profissão do que um homem com habilidades comparáveis, especialmente porque as mulheres não tinham acesso a aulas de desenho.

Embora Vigée Le Brun tenha sido inicialmente negada como membra da Academia, em 1783 o rei da França ordenou que uma exceção fosse feita e a artista se tornou uma das quatro mulheres da Academia. Frente a tantas dificuldades enfrentadas por artistas mulheres na época, é fascinante ( e importante) ver uma pintora tão bem sucedida quanto Vigée Le Brun retratada de forma tão poderosa como mãe. 

Mary Cassatt
Mary Cassatt
Mary Cassatt

Mary Cassatt, 1800s

A pintora impressionista americana Mary Cassatt pode não ter sido uma feminista decalrada, mas tinham um importante compromisso com as pautas que mais tarde seriam defendidas pelo movimento e que iam muito além de seu ofício de artista, sendo uma defensora árdua do sufrágio feminino, da educação e oportunidades de trabalho igualitárias para ambos os sexos e também do compromisso igualitário de se cuidar dos filhos.

Ela havia decidido desde o início que o casamento e a maternidade eram incompatíveis com uma carreira. No entanto, ironicamente, acabou transformando restrições sociais em vantagem e especializou-se em pintar cenas domésticas e muitas variações sobre o tema mãe e filhos com um notável tom de doçura. Foi revolucionária e não teve nenhum receio de, por exemplo, pintar uma mulher amamentando, com o seio nu. A liberdade em amamentar sem tabu foi, certamente, um passo relevante para a História da Arte. 

Autorretrato de Paula Modersohn Becker
Autorretrato de Paula Modersohn Becker

Paula Modersohn-Becker, 1906

Um dos ícones do movimento expressionista alemão, foi influenciada por diferentes artistas e movimentos:  Cézanne, Gauguim, o cubismo de Picasso, o fauvismo, a arte japonesa e o renascimento alemão. Casou-se em 1901 com o também pintor Otto Modersohn e passou por um período tentando conciliar as suas ambições artísticas com a sua nova vida de esposa, mulher da casa e mãe da pequena Elisabeth –  resultado do primeiro matrimônio de Otto e modelo de uma série de retratos. Em 1906, no entanto, ela rompeu com o marido e mudou-se para Paris com o objetivo de dedicar-se inteiramente ao seu trabalho: calcula-se que o número de telas realizadas entre 1906 e 1907 é de cerca de noventa.

Eventualmente ela acabou voltando para o marido e esta foi também a época de sua gravidez ( Paula deu à luz em 1907 aos 31 anos) e de uma produção intensa de autorretratos! Seguindo a prática comum de colocar as mulheres em repouso na cama por duas a quatro semanas após o parto, ela morreu de embolia pulmonar quando foi autorizada a ficar de pé, dezoito dias após o parto.Paula previra sua morte muito jovem e estava apreensiva com a gravidez, mas se retratou esperando o bebê, destacando a importância da gravidez em sua vida. Tornou-se sua pintura mais conhecida e importante, onde é possível encontrar o delicado equilíbrio entre beleza e verdade, imaginação e realidade. Mesmo antes de engravidar, muitas de suas pinturas retratam a maternidade e o inexplicável vínculo mãe-filho, o que indica sua complexa relação com a maternidade. O tempo da gravidez torna-se potente para a pintura de Paula, quando ela teve uma forte premonição de que sua vida seria curta. A artista chegou a escrever: “Enquanto eu estava pintando hoje, alguns pensamentos me ocorreram e quero escrevê-los para as pessoas que amo. Eu sei que não viverei muito. Mas eu me pergunto, isso é triste? Minha vida é uma celebração, uma celebração curta e intensa”. 

Mother and Child, de Barbara Hepworth
Mother and Child, de Barbara Hepworth

Barbara Hepworth, 1934

Mother and Child é uma pequena escultura abstrata em pedra da artista britânica Barbara Hepworth ondulada e biomórfica. A forma maior representa a figura reclinada da mãe e a forma menor, que fica em cima dela, uma criança abraçada. Embora sejam elementos escultóricos independentes, tanto a mãe quanto o filho parecem ter sido esculpidos na mesma peça. Tanto Hepworth quanto Henry Moore usaram o alabastro de Cumberland em seus trabalhos durante os anos 1930. 

A relação entre mãe e filho é um tema recorrente na obra de Hepworth durante o final da década de 1920 e início da década de 1930 – muito provavelmente um reflexo das mudanças em sua própria vida pessoal. Em 1929 a artista deu à luz seu primeiro bebê, Paul Skeaping, filho de John Skeaping; e, em 1934, o mesmo ano em que este trabalho foi feito, ela se tornou mãe de trigêmeos com Ben Nicholson.

Post-Partum Document, de Mary Kelly
Post-Partum Document, de Mary Kelly

Mary Kelly, 1973-79

Mary Kelly é uma das artistas contemporâneas mais influentes da atualidade. Criou diálogo estreito com o movimento feminino da década de 1970 combinando narrativas pessoais com um humor sutil e uma abordagem crítica analítica da sociedade naquele período. Seu principal projeto, Post-Partum Document, realizado ao longo de seis anos, mostra como uma criança, filho do artista, gradualmente domina a linguagem em um processo mútuo de socialização entre mãe e filho nos primeiros anos de vida. Usou a teoria psicanalítica de Lacan para examinar os momentos de separação e perda no relacionamento.

“Eu preservei as coisas que pareciam emocionalmente significativas dentro de mim e levei dois anos para pensar sobre como transformar isso em uma obra de arte”, revelou a artista em entrevista para a Select.

Por um fio, de Anna Maria Maiolino
Por um fio, de Anna Maria Maiolino

Anna Maria Maiolino, 1976

Uma das artistas brasileiras mais importantes, Anna Maria Maiolino passou a desenvolver, a partir dos anos 1970, a desenvolver sua longeva série “Fotopoemação”, em que cria poemas visuais por meio de atos performativos captados pela fotografia. Algumas dessas peças são diretamente influenciadas pelo contexto ditatorial e de opressão do Brasil de então, enquanto outras abordam questões políticas pelo viés mais sutil da subjetividade e de sua condição como artista, mulher e mãe. Na icônica foto Por um fio, de 1976, a artista faz um autorretrato ao lado da mãe e de sua filha lado a lado, ligadas por um fio de macarrão, cada ponta na boca de uma delas. Nesse belo retrato de três gerações de mulheres unidas por algo tão simples, Anna transfigura em arte o lugar de algo associado em geral de forma depreciativa e limitadora à mulher. Não há como não pensar, aqui, ainda sobre a forte ligação do cordão umbilical – uma conexão física que, depois de cortada, torna-se um vínculo emocional e psicológico mágico, misterioso e potente.  

Senga Nengudi
R.S.V.P., de Senga Nengudi

Senga Nengudi, 1977-2003

Senga Nengudi é uma artista plástica afro-americana, mais conhecida por suas esculturas abstratas que combinam objetos encontrados e performances coreografadas. A partir de 1977, Nengudi começou a criar a série R.S.V.P. a partir de composições escultóricas feitas de meia-calça e areia. São trabalhos que destacam as preocupações formais da escultura abstrata, como peso, tensão e relações espaciais, mas também associações vividas pelos corpos femininos. Referindo-se a estas obras como “reflexos abstratos de corpos usados”, Nengudi criou R.S.V.P. em parte como uma resposta às mudanças que seu corpo passou durante a gravidez e como uma reflexão sobre as transformações físicas mais graduais que revelam-se com a idade.

Maman, de Louise Bourgeois
Maman, de Louise Bourgeois
Maternidade, por Louise Bourgeois
Maternidade, por Louise Bourgeois

Louise Bourgeois, 1990s

Louise Bourgeois cresceu na Paris do início do século 20 e é conhecida por exaltar a sexualidade e expor uma relação complexa com os pais. Durante sua adolescência, o pai da artista começou um caso com a governanta residente na família, Sadie Gordon Richmond. Essa infidelidade teve um impacto profundo em Bourgeois, cujo trabalho posterior foi alimentado por uma ferida aberta de traição. Nos anos 1950, ela já morava em Nova York e vivenciava a cena artsy em torno de nomes como  Mark Rothko, Jackson Pollock,  Willem de Kooning e Robert Rauschenberg. Nesse período,  Bourgeois mergulhou na psicanálise e nos ensinamentos de Freud na tentativa de exorcizar as primeiras memórias traumáticas – essa exploração do subconsciente tornou-se um componente inseparável de seu trabalho e, no final em 1999, Bourgeois criou Maman como parte de sua comissão inaugural para Turbine Halls da Tate Modern. Com mais de 30 pés de altura, a aranha monumental foi reproduzida muitas vezes com versões espalhadas por todo o mundo (incluindo uma no MAM de São Paulo) – tornando-se seu trabalho mais conhecido. Uma homenagem à sua mãe, a aranha representa a feminilidade, o corpo e o amor nutritivo ao mesmo tempo em que fala de seu trauma inicial e da paz que encontrou ao escavar memórias dolorosas.

A artista também produziu um número significativo de pinturas de corpos de mulheres grávidas e criou cenas que revelam diferentes facetas da conexão entre mãe e bebê. Em 2009, já no final da vida, fez uma série em parceria com a artista Tracey Emin chamada Do Not Abandon Me. Ambas as artistas são conhecidas por um olhar particular para os desafios e dores das mulheres. 

Carrie Mae Weems
Carrie Mae Weems

Carrie Mae Weems, 1990

Usando a mesa da cozinha como uma metáfora para o espaço onde a vida se desenrola, Carrie Mae Weems criou a série Kitchen Table , na qual segue uma protagonista feminina enquanto ela navega pelas fases da vida, examinando uma série de relações desde as românticas às maternas – tanto com sua mãe como com sua filha. A ideia é se opor a estereótipos públicos, mostrando a complexa vida doméstica de mulheres e indivíduos negros. Em Untitled (Woman and daughter with makeup) , uma menina e sua mãe estão preocupadas aplicando batom – um ritual privado que antecipa a exposição pública. A fotografia explora noções de feminilidade e os costumes cotidianos que as meninas podem absorver, conscientemente ou não, de suas mães desde tenra idade. Outra situação doméstica que representa esta comunhão entre mães e filhas, bastante explorada por artistas afrodescendentes do mundo inteiro, revela o ritual de trançar ou alisar os cabelos, sempre juntas. 

Mãe Preta, de No Martins
Mãe Preta, de No Martins

No Martins, 2020 

Ao encontrar seu retrato quando bebê no colo de sua mãe, o artista Nô Martins se deparou com uma questão discutida entre os artistas afro-descendentes brasileiros há mais de 100 anos, a imagem da “mãe preta” e a sua imagem poderosa como mulher geradora do orgulho negro.  

Já nas primeiras décadas do século 20, militantes negros tentaram convencer o Estado  a reconhecer publicamente a importância de seus antepassados para a construção da nação por meio da construção de uma escultura que representasse a Mãe Preta amemantando seu filho – ou seja: a mulher progenitora de uma orgulhosa raça negra brasileira. “Tratava-se de justa homenagem à imagem da mulher negra que conheceu e geriu como ninguém o mundo doméstico, que deu a vida por bebê alheio, que ensinou as primeiras palavras, cantou para dormir as moças apaixonadas, tirou piolhos e deixou dengoso os futuros donos do poder”, como bem definiu Alexandre Araujo Bispo no Omenelick. Essas mulheres seriam a representação do trabalho, do amor e da negação de si próprias e, estavam eternizadas na memória de muitos brasileiros negros e brancos naquele inicio de século. O monumento à Mãe Preta, no entanto, só foi criado em 1954 durante a comemoração do aniversário de São Paulo. Mas a aparência de estilo moderno da escultura desagradou militantes, pois trazia os mesmos exageros e estereótipos eurocêntricos comuns ao traço modernista: os pés e as mãos enormes como símbolos da atividade produtiva da Mãe – pense na A negra, da artista Tarsila do Amaral, em o personagem da tela Café, de Cândido Portinari. 

Além de pintar a própria mãe para reativar e ressignificar a imagem da Mãe Preta, Nô fez mais duas telas de mulheres negras amamentando suas crias chamando atenção para o importante papel de mulheres negras gerindo e educando grande parte da população brasileira. 

Catarina Cassage, por Panmela Castro
Catarina Cassage, por Panmela Castro

Panmela Castro, 2021

Desde o início de 2019, a artista carioca Panmela Castro convida personagens que ela define com relevantes para a resistência feminista e negra para visitar seu ateliê.  “Comecei a receber algumas pessoas em meu para comer, beber, as vezes dançar e passar a noite juntos, em vigília”, explica a artista sobre a Vigília, uma série de retratos dos seus convidados. Na série Residência, é a Panmela que vai até a casa os seus retratados escolhidos – uma experiência completamente diferente já que ela sai de seu ambiente para mergulhar no espaço e vida de seus personagens.

Foi também em 2019 que Panmela concorreu ao Prêmio Pipa chamando a atenção da também artista Monica Ventura e desde então as duas trocam ideias sobre seus trabalhos. Mas a aproximação entre as duas aconteceu mais intensamente neste ano, quando Panmela foi até a casa de Monica para pintá-la grávida! 

“Ela sempre esteve muito ligada ao feminismo e na união de artistas afro-descendentes e isso nos aproximou, mas ficamos mais amigas a partir dessa experiência da pintura”, revela Mônica que já se prepara para uma nova e promissora fase de vida. “Dentro das minhas práticas artísticas, falo do feminino e mais especificamente da mulher negra, tentando entender a situação psicossocial dessa mulher. Portanto, certamente meu trabalho será  influenciado por essa transformação. Meu olhar vai se ampliar em relação ao feminino e nosso lugar na sociedade.”, relata. “A maternidade está acontecendo num momento muito potente da minha carreira profissional [ Monica, assim como Panmela participaram do projeto Enciclopédia Negra]. Isso é muito lindo porque trata-se de uma potência geradora, estou gerando vida e arte. Estou no ápice de produção dos dois lados. É claro que a maternidade agora será prioridade e espero voltar para a minha produção artística ainda mais preenchida de inspiração e criatividade”, completa. 

“Não sou mãe, mas essa experiência fui muito importante para mim. Estar na casa da Monica nesse momento tão especial fez com que eu me sentisse como uma madrinha”, explicou Panmela. Por uma bonita coincidência, a personagem que Panmela representou no livro e exposição Enciclopédia Negra é Catarina Cassa Cassage. Era comum que muitas mulheres escravizadas fugissem quando engravidavam tanto para ter um parto mais tranquilo quanto para impedir que sua prole continuasse escravizada ou fosse separada por venda senhorial. Catarina foi uma delas. Seu proprietário, Manuel da Rosa, divulgou no Diário do Rio de Janeiro que havia escapado grávida de 4 meses. Marcas corporais, traços e personalidade foram detalhadamente descritos. Mas ela chegou a ficar um ano foragida, sendo capturada em 1839,  e conseguiu ter o filho durante o pouco tempo em liberdade, o José.

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