Um novo caso de obra de arte imaterial levantou discussões acerca desse modelo de “arte conceitual”. Ao longo da História da Arte, vários trabalhos um tanto controversos calcados em uma ideia de conceitualismo levantaram polêmicas ou, no mínimo, questionamentos. Do objeto Merda d’Artista, de Piero Manzoni, em 1961 à instalação Comedian, de Maurizio Cattelan, em 2019, muitas obras foram criada a partir de um pensamento que valorizava o conceito e a ideia que elas carregavam, não levando em conta valores estéticos, por exemplo.
Na última semana, veio à tona um caso que aconteceu na Dinamarca: o Museu Kunsten de Arte Moderna localizado na região de Aalborg, na Dinamarca, um pouco mais de $80000 para que o artista Jens Haaning fizesse um trabalho para a instituição. Esse trabalho consistia especificamente em reproduzir trabalhos anteriores seus, que estariam em uma nova mostra do museu. Eram trabalhos que o artista realizou no final dos anos 2000, que fazia o uso de notas em criações que tinham como referência a média de salário de um dinamarquês ao ano.
O problema é que Haaning nunca realizou esses trabalhos. Ele decidiu por si só realizar uma obra nova, que intitulou Take the Money and Run, em tradução livre: pegue o dinheiro e corra. E foi literalmente o que o artista fez, colocando esse trabalho na categoria de “arte conceitual”. Embolsou a quantia, desapareceu e deixou duas lousas vazias no chão de onde deveria estar trabalhando no que foi acordado em contrato. A um programa de rádio chamado P1 Morgen, o artista afirmou que o que ele fez não é roubo: “É uma quebra de contrato. A quebra de contrato faz parte da obra”. Ao portal Artnet, um responsável pelo museu disse que a instituição irá esperar até 16 de janeiro para que o artista devolva o dinheiro, como foi acordado entre as partes. Caso isso não ocorra, o museu deve tomar medidas judiciais.
Não é a primeira vez e nem será a última que obras de arte imateriais dão o que falar. Algumas são invisíveis em seu cerne mesmo, como The Invisible Sculpture, criada por Andy Warhol em 1985. A obra conceitual mostrada pela primeira vez em uma casa noturna de Nova York era também performática. O artista ficou parado um pedestal no espaço e depois desceu do pedestal, indo embora e deixando o pedestal, onde ao lado poderia se ver uma etiqueta de parede, com os escritos: “Andy Warhol, EUA, Invisible Sculpture, Mixed Media, 1985”. A ideia dessa performance que se transformava numa escultura invisível do próprio artista “era mostrar que a ausência de algo poderia ser arte”.
Em fevereiro deste ano, o artista italiano Salvatore Garau instalou em uma praça na cidade de Milão uma escultura invisível que chamou de Buddha in Contemplation. A escultura, que obviamente não é visível aos olhos, é demarcada por um quadrado feito com uma fita adesiva sobre os paralelepípedos do chão da praça. Ele também instalou em Nova York, em frente à bolsa de valores, a escultura Afrodite Cries. O trabalho, realizado em junho, foi comissionado pelo Instituto Italiano de Cultura. No mesmo mês, Garau vendeu uma outra obra invisível, chamada Lo sono, em uma transação de 15000 euros.