O ano começou com um clima de cautela, especialistas previam um período morno para as vendas de obras. Embora a primeira metade de 2024 tenha sido desafiadora, o saldo final é de que as artes visuais continuam a ser um ativo tangível consistente, mesmo em meio a crises geopolíticas. Confira alguns fatores em destaque:
Leilões
Há quem diga que 2024 foi um ano devagar para o mercado de artes visuais, uma impressão deixada pela primeira temporada de leilões do ano, em Nova Iorque. Seguindo um ano de 2023 com resultados abaixo do esperado, ficou claro que o impacto da pandemia trouxe um pós lento, mas isso tem mudado aos poucos. O cenário retomou seu vigor, com vendas recordistas de obras blue-chip por casas de leilão internacionais, como a Sotheby’s, responsável pela venda da pintura mais cara do ano, a “L’empire des lumières“, de René Magritte por US$ 121 milhões [c. R$ 700 milhões].
O centenário do Surrealismo movimentou as vendas e pode ajudar a explicar o recorde para a obra mais cara de Leonora Carrington, a “Les Distractions de Dagobert” por US$ 28.5 milhões [c. R$ 132 milhões]. Essa é uma dentre as apenas 4 vendas de mulheres na lista das 50 obras mais caras leiloadas em 2024.
Um arremate que não passou despercebido foi a de “Comedian”, de Maurizio Cattelan, por US$ 6.2 milhões [c. R$ 38 milhões]. O lance ganhador foi feito por um investidor de criptomoedas, que comeu a banana milionária logo em seguida. Essa modalidade de compra via blockchain foi inaugurada pela Sotheby’s especialmente para a obra polêmica. Será que em 2025 mais obras serão leiloadas neste modelo?
Mesmo com esses resultados, especialistas em leilões continuam cautelosos – Sotheby’s, Christie’s e Phillips venderam juntas US$ 1,3 bilhão no segundo semestre, uma queda de 40% em relação ao ano passado, segundo o The New York Times.
Do Brasil para o mundo
O ano de 2024, marcado por notícias de brasileiros marcando as manchetes internacionais, antecipa uma tendência apontada para o ano que vem: há um crescente interesse internacional na produção brasileira, crítica e criativa. Essa influência vai para além da 60ª Bienal de Veneza, curada por Adriano Pedrosa, e se mostra no crescimento do tamanho do mercado nacional, de acordo com o The Art Basel & UBS Art Market Report 2024 por Arts Economics.
Seja através de exposições, adesões em acervos importantes, premiações, participação em feiras ou em projetos com grandes parcerias, artistas e galerias nacionais são destaque no exterior. De acordo com o mais recente Artsy Market Report, os brasileiros configuram entre as nacionalidades mais buscadas quando se fala em adquirir obras de arte, com 11% das consultas na plataforma. Um destaque do período foi a procura pelo duo de grafiteiros OSGÊMEOS.
O texto que regulamenta a Reforma Tributária, aprovado na CCJ na última quarta-feira (11) , deve impactar essa presença no futuro.
Novos públicos
Os padrões de consumo estão mudando, e o mercado de arte está se transformando para acomodar novos colecionadores, de pequeno e médio porte, bem como outras gerações, como a Gen Z, apontada pela Survey como responsável pelo crescimento do lucro de artistas emergentes.
Os market places conseguem aumentar a sua porcentagem nos lucros anuais com comercialização de obras mais um ano consecutivo, a média de vendas totais por galeria no Artsy aumentou 15% ano a ano em 2024 – atingindo a marca mais alta desde 2021.
Também é notável a abertura de novos mercados em territórios para além do eixo tradicional, como foi a estreia da temporada de leilões em Hong Kong no segundo semestre, que antecedeu a Art Basel Hong Kong.
As feiras internacionais foram determinantes para definir os lucros em arte mais uma vez em 2024. Só a Art Basel Miami Beach, evento que fecha o calendário, bateu recorde em 2024, gerando um impacto econômico de US$ 547 milhões, de acordo com relatório da The Boyd Co. Até 2023, 35% das vendas em arte eram feitas em feiras como a Art Basel.
Os assuntos parecem recorrentes, como a vendas de NFTs, que continuam em declínio vertiginoso, ou a presença das IAs, mas são sintomas cada vez mais aparentes dessa transição de mercado. Startups que utilizam Inteligências Artificiais para precificar obras ou leilões em blockchain são exemplos de novas possibilidades de comprar e vender arte globalmente.
Galerias
Embora os números brasileiros apontem para o crescimento do mercado, com um 2024 marcado pela abertura de novas galerias e expansão das existentes, observa-se um lento recrudescimento desse setor na Europa e na América do Norte.
Este ano foi marcado pela crise das galerias em Nova Iorque, com grandes nomes da cidade, como Marlborough Gallery, Alexander and Bonin, Cheim & Read, Denny Gallery, Foxy Production, JTT, Malin Gallery encerrando suas atividades, cenário que vem se agravando nos últimos anos e que aponta para o enrijecimento do modelo de negócios de alguns galeristas frente às novas demandas dos públicos.
Isso se comprova na UBS & Art Basel Survey of Global Collecting 2024, onde 88% dos colecionadores disseram ter consumido de galerias novas, ou seja, com as quais nunca tinham trabalhado antes, um cenário que incentiva novos players para 2025.
Com pontos de atenção, mas indicando uma melhora geral do cenário, o ano de 2024 marcou uma transição de mercado importante. Podemos esperar muitas discussões para 2025. Tudo de mais importante a respeito do mercado de arte global, você acompanha aqui.