Como está o mercado de arte brasileiro?

Pesquisa recém lançada pela Act Arte ouviu especialistas para determinar o tamanho do mercado brasileiro e suas particularidades em uma análise completa do setor

por Carolina Reis
6 minuto(s)

O mercado brasileiro de arte começou a se desenvolver durante a Segunda Guerra Mundial, impulsionado pela intensa migração de marchands e colecionadores refugiados, como foi o caso de Pietro Maria Bardi e Lina Bo Bardi, mas só ganhou corpo em meados da década de 1990.

Em 1977, um censo realizado pelo IDART (Departamento de Informação e Documentação Artística) constatou a existência de 46 galerias de arte em São Paulo. O número de leilões de arte aumentou de 3 em 1967 para 80 em 1979, enquanto os valores das transações passaram de R$ 1 milhão para R$ 40 milhões, atingindo R$ 70 milhões em 1973. Em 2023, o mercado de arte brasileiro movimentou R$ 2,9 bilhões, representando um crescimento de 21% em relação ao ano anterior, com uma Taxa Anual de Crescimento Composta (TACC) de 15% ao ano.

Considerado incipiente, o mercado nacional vem deixando esse título para trás ao se tornar cada vez mais relevante, sendo hoje responsável por 0,89% das vendas anuais pelo globo

A 7ª Pesquisa Setorial do Mercado de Arte no Brasil, realizada pela Act Arte e encomendada pela Associação Brasileira de Arte Contemporânea (ABACT) em parceria com a ApexBrasil, foi divulgada em janeiro de 2025 e refere-se aos resultados de 2023, um período marcado pela recuperação pós-pandêmica. Embora os dados analisados se limitem a esse ano, é importante considerar que 2024 foi um marco para a presença da arte brasileira no cenário internacional, com a curadoria de Adriano Pedrosa na Bienal de Veneza e um número expressivo de artistas brasileiros com exposições individuais em instituições estrangeiras.

A equipe entrevistou 76 galerias de arte e 45 profissionais do setor, incluindo artistas, colecionadores, consultores, representantes de feiras, casas de leilão e curadores. Neste artigo, selecionamos as principais análises divulgadas e as contextualizamos a fim de entender a situação atual do mercado de arte nacional.

7ª Pesquisa Setorial do Mercado de Arte no Brasil © ACT ARTE, 2024

Interesse na arte brasileira

Desde a última edição dessa pesquisa, em 2018, atravessamos uma pandemia e observamos cada vez mais galerias nacionais sendo criadas e expandindo suas atividades, com artistas projetando seus trabalhos para o fora do país. Desde a década de 1990, o setor vê sua dependência de compradores locais perdurar, com uma média de 77% de suas vendas para esse público. Por outro lado, o aumento de 24% no valor das exportações em 2023 indica uma expansão relevante no mercado externo. 

Cinco países correspondem a 90% dos destinos de todas as exportações de arte a partir do Brasil. São eles, em ordem decrescente do valor gasto: Estados Unidos, Reino Unido, França, Suíça e Bélgica.

7ª Pesquisa Setorial do Mercado de Arte no Brasil © ACT ARTE, 2024

7ª Pesquisa Setorial do Mercado de Arte no Brasil © ACT ARTE, 2024

Galerias

Das 101 galerias brasileiras convidadas, 60 responderam à pesquisa em sua completude. Os resultados apontam que cada galeria representa, em média, 27 artistas. Os três artistas mais vendidos pelas galerias correspondem a uma média de 51% de suas receitas.

Em 2023, o valor geral de vendas anuais de 58% das galerias foi de até R$ 5 milhões. Elas apresentam, em média, 73 clientes únicos por ano, enquanto aquelas com vendas acima de R$ 50 milhões registraram 248 compradores únicos.

Obras de arte de até R$ 50 mil representam 59% das receitas das galerias. Apenas 9% do valor geral de vendas foram de obras acima de R$ 300 mil.

Observa-se que as galerias que atuam tanto no mercado primário quanto no secundário tendem a apresentar um faturamento significativamente maior em comparação às que operam exclusivamente em um único segmento. Entre aquelas que atuam em ambos os segmentos, 37% relataram vendas superiores a R$ 15 milhões, enquanto apenas 8% das galerias que operam exclusivamente no mercado primário atingiram esse patamar de vendas.

Canais de venda

Foram mapeados leilões, vendas dentro das galerias, feiras de arte e canais digitais para compor o quadro de distribuição nos canais. As vendas presenciais na própria galeria representam 42% das receitas, seguidas por vendas em feiras de arte nacionais, com 25%.

O canal de vendas que mais cresceu desde a Pesquisa Setorial de 2018 foi o online, passando de 8% para 20% em 2023, número que sofreu grande impacto do período pandêmico, que mudou a forma de comercializar arte pelo mundo.

7ª Pesquisa Setorial do Mercado de Arte no Brasil © ACT ARTE, 2024

A participação em feiras de arte é fundamental para os negócios das galerias pesquisadas, representando 25% das despesas médias anuais. Os gastos com folha de pagamentos ocupam 23% do orçamento anual. Em 2024, apenas 3% delas não participaram de nenhuma feira nacional, e 29% não participaram de nenhuma feira internacional.

7ª Pesquisa Setorial do Mercado de Arte no Brasil © ACT ARTE, 2024

Projeção de futuro

7ª Pesquisa Setorial do Mercado de Arte no Brasil © ACT ARTE, 2024

Conclusões

Nosso mercado se recuperou da pandemia; agora o desafio é outro: projetar seu impacto para fora. Entre as recomendações formuladas pela equipe que conduziu a pesquisa, alguns temas se destacam como pontos de atenção para o setor, entre eles:

1. Burocracia complexa e custos logísticos elevados;

> Recomendações: acordos de facilitação logística; criação de centros logísticos compartilhados em free-ports; atualização e simplificação do Manual de Importação e Exportação de Obras de Arte da ABACT.

2. Alto custo de participação em feiras e eventos internacionais;

> Recomendações: aumento e diversificação do apoio financeiro da ApexBrasil; compartilhamento de estandes; negociação de acordos no setor.

3. Tributos e impactos no mercado de arte brasileiro;

7ª Pesquisa Setorial do Mercado de Arte no Brasil © ACT ARTE, 2024

4. Divulgação e visibilidade internacional;

> Recomendações: residências artísticas e diálogo cultural; políticas para inclusão de artistas em exposições globais; campanhas de divulgação global; plataformas digitais de promoção; parcerias editorais internacionais; diplomacia cultural ativa com apoio institucional contínuo; eventos paralelos em feiras internacionais

5. Fomento institucional e políticas públicas;

> Recomendações: defesa de políticas públicas abrangentes; promoção de parcerias com o setor privado; captação de recursos a projetos artísticos

6. Concentração do mercado nacional

> Recomendações: desenvolvimento de políticas públicas regionais; Promoção de eventos regionais; Programas de intercâmbio regional; campanhas de comunicação.

7. Assimetrias nas práticas de mercado

> Recomendações: Práticas de negociação éticas; publicação de dados sobre preços.

8. Ampliação do uso de tecnologias digitais

> Recomendações: educação e capacitação digital; promoção de presença digital global.

9. Sustentabilidade

> Recomendações: incorporação da sustentabilidade no código de melhores práticas, comunicação estratégica; educação e incentivos; parcerias e certificações.

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