O IMS Paulista exibe a exposição retrospectiva “Claudia Andujar – A luta Yanomami”, ocupando dois andares do centro cultural. Esta é uma das maiores mostras já organizadas pelo IMS e reúne cerca de 300 obras e uma instalação da fotógrafa e ativista, além de livros e documentos. O conjunto traça um panorama do trabalho de Andujar dedicado aos Yanomami, retomando aspectos pouco conhecidos de sua trajetória e da sua luta pela demarcação de terras indígenas, numa união entre arte e política. A seleção é resultado de pesquisa de muitos anos no acervo de mais de 40 mil imagens de Andujar, realizada pelo curador Thyago Nogueira, coordenador da área de fotografia contemporânea do IMS.
Na abertura, às 11h, a artista participa de uma conversa com o curador da exposição e com o líder indígena Davi Kopenawa, no auditório do IMS Paulista. A programação da mostra também inclui, no dia 16 de dezembro (domingo) às 11h, um ritual xamânico conduzido por Kopenawa.
O primeiro andar apresenta a fase inicial da carreira de Andujar, com fotografias produzidas entre 1971 e 1977, na região do Catrimani, em Roraima.A fotógrafa acompanhava as atividades diárias na floresta e na maloca, os rituais xamânicos e retratava os indivíduos. O mergulho entre os Yanomami foi possível graças a uma bolsa da Fundação John Simon Guggenheim. Nessa parte da exposição, é possível acompanhar as primeiras viagens de Andujar ao território Yanomami, sua aproximação com a nova cultura e o amadurecimento do trabalho, conforme passava mais tempo na floresta. Com a ajuda do missionário Carlo Zacquini, que vivia há muito entre os Yanomami, Andujar pode aprofundar-se na rotina, acompanhar viagens, festas e expedições de caça.
Um dos conjuntos mais impactantes do período é o registro das festas reahu, as complexas cerimônias funerárias e de aliança intercomunitária, marcadas por ritos específicos e pela fartura de comida. Para produzir as fotos, tentando relacionar o que via com a dimensão mística presente nos rituais, Andujar desenvolveu experimentos fotográficos em São Paulo, com flashes, lamparinas e filmes infravermelhos, que depois aplicou na mata. As imagens traduzem o universo espiritual, dando forma concreta a um mundo abstrato.
Em 1977, Andujar foi expulsa e impedida de voltar à área indígena pela Funai. O segundo andar da exposição concentra-se no contato radical da civilização branca com a indígena e na história de luta empreendida pela fotógrafa para proteger o povo que adotara como família. Entre os anos 1970 e 1980, o garimpo e os planos de desenvolvimento da Amazônia durante o governo militar introduziram um rastro de doenças, violência e poluição que aniquilou comunidades indígenas inteiras, despreparadas para enfrentá-lo.
Diante da tragédia, Andujar cria com o missionário Carlo Zacquini e o antropólogo Bruce Albert a Comissão pela Criação do Parque Yanomami (ccpy) em 1978. Durante 13 anos a ccpy travou uma batalha incansável pela demarcação contínua da terra indígena, vista como a única maneira de garantir a sobrevivência dos Yanomami e seu ecossistema. Contra forças econômicas poderosas, finalmente, em 1992, a terra foi homologada às vésperas da conferência-geral da onu sobre o clima (Rio-92), num dos mais bem-sucedidos exemplos de luta política.
Em uma de suas séries mais conhecidas, fotografou Yanomami de várias regiões para identificar os cadastros de saúde e vacinação. As fotos numeradas se transformaram na série Marcados, exibidas na 27a Bienal de Arte de São Paulo e no exterior. A exposição apresenta novos conjuntos dessa série, com uma contextualização sobre os lugares onde os retratos foram feitos.
Outro destaque é uma nova versão da instalação Genocídio do Yanomami: morte do Brasil (1989/ 2018), manifesto audiovisual em 16 telas, criado em defesa dos Yanomami. A instalação foi exibida pela primeira vez em 1989 como reação aos decretos assinados pelo presidente da República, José Sarney, que demarcavam a terra indígena em 19 “ilhas” isoladas. Feita com fotos do arquivo de Andujar refotografadas com luzes e filtros, a projeção conduz o espectador por um mundo em harmonia, paulatinamente destruído pelo progresso da civilização branca. A compositora Marlui Miranda criou a trilha, que combina música instrumental americana, japonesa e cantos Yanomami. A instalação apresenta uma retrospectiva do trabalho de Andujar, incluindo fotos tiradas entre 1972 e 1984.
Na abertura da exposição, será lançado um catálogo retrospectivo com mais de 300 imagens e textos do curador, de Andujar e do antropólogo Bruce Albert, que se aliou a ela na luta pelos Yanomami.
Claudia Andujar – A luta Yanomami
Curadoria: Thyago Nogueira
Abertura: 15/12/18, 11h
Visitação: até 07/04/19; terça a domingo, 10h-20h (quinta até 22h)
IMS Paulista: Avenida Paulista, 2424, São Paulo. Entrada gratuita
Conversa de abertura, com Claudia Andujar, Thyago Nogueira e Davi Kopenawa
15/12/18, 11h
Cineteatro do IMS Paulista
Entrada gratuita, com distribuição de senhas 1 hora antes e limite de 1 senha por pessoa
Pajelança com Davi Kopenawa, Pedrinho Yanomami e Levi Malamahi Alaopeteri Yanomami
16/12/18, 11h
Galeria 3 do IMS Paulista
Entrada gratuita, sujeita a lotação, com lugares limitados