Você já deve ter visto uma pintura que retrata duas mulheres decapitando ferozmente um homem. Uma das versões mais famosas desta cena é a tela Judite decapitando Holofernes de Artemísia Gentileschi ou a versão do mestre italiano do chiaroscuro, Caravaggio. Mas, afinal, quem é Judite e por que raios ela está decapitando um homem chamado Holofernes.
A história de Judite e Holofernes faz parte do Antigo Testamento. Não se sabe ao certo o período exato durante o qual ela aconteceu pois os escritos originais se perderam e o que chegou até os dias de hoje é uma tradução grega não muito precisa. Judite, entretanto, era uma mulher viúva, judia, que vivia na cidade de Betúlia, na Judéia, durante o período em que as Terras de Israel estavam sob ocupação greco-síria. Holofernes, por sua vez, era o general grego que comandava o exército que atacava a cidade de Betúlia pretendendo invadi-la e tomá-la.
Percebendo que não seria tão fácil derrotar seus inimigos judeus e invadir a cidade, Holofernes resolveu sitiá-la, secando seus poços e cortando o acesso da cidade aos alimentos esperando vencê-los pela fome e a sede. Judite, insatisfeita com a situação e testemunhando o declínio de seu próprio povo, decide agir. Acompanhada de sua serva, reuniu uma pequena quantidade de alimentos casher em uma cesta e dirigiu-se ao exército grego. Quando a interromperam indagando-lhe o que ela pretendia, ela respondeu que seu povo não tinha a menor chance e que ela gostaria de ir até o general para oferecer-lhe a chave para derrotar o povo de Betúlia.
Judite, então, foi levada a Holofernes e o convenceu que em pouco tempo os habitantes da cidade ficariam sem comida casher e seriam obrigados a se alimentar de animais não casher e de animais destinados ao sacrifício, atraindo a ira divina que lançaria sobre eles terríveis maldições e o que daria a Holofernes o momento perfeito para tomar a cidade. Holofernes, iludido pelo plano de Judite e atraído por sua beleza e graça, acreditou em seu plano e passou a esperar tranquilamente pelo sinal que Judite prometeu que lhe daria.
Em pouco tempo, Judite e a serva, que foram autorizadas por Holofernes a ir e vir da cidade ao acampamento, trouxeram as notícias de que o momento de agir estaria próximo. Holofernes, então, convidou Judite para jantar a sós com ele e ela aceitou o convite prontamente. Durante o jantar, depois que o general já havia comido e bebido e estava desprevenido e bêbado, Judite chamou a serva que aguardava seu sinal e que vigiava a tenda do general e com a espada dele golpeou seu pescoço arrancando sua cabeça. As duas, então, embrulharam a cabeça do general grego em um pano e a levaram sem levantar suspeitas à cidade. Os guerreiros de Betúlia, avisados pelas heroicas mulheres, invadiram o acampamento dos inimigos que, com o general morto, se renderam e fugiram. Judite passou a ser uma heroína do povo judeu.
Nestas obras de artistas como Peter Paul Rubens, Caravaggio, Artemísia e Orazio Gentileschi, Tiziano, Tintoretto, Lucas Cranach, entre outros, a mesma cena aparece retratada em diferentes leituras e se torna uma das cenas mais frequentes da história da arte.