Na recente e já aclamada série da Netflix, a relação entre o personagem principal Tom Ripley e Caravaggio, mestre da pintura barroca, é envolta por um fascínio obscuro e intrigante. Intitulada “Ripley”, a série é dirigida por Steven Zaillian, conhecido por trabalhos como “A Lista de Schindler” e “O Irlandês”, e é uma adaptação do romance “O Talentoso Ripley”, de Patricia Highsmith. Anteriormente, os romances com o mesmo tema da autora foram adaptados para o cinema, como no caso do clássico de 1999 estreado por Matt Damon, Gwyneth Paltrow e Jude Law.
O enredo traça paralelos sutis entre os dois personagens, mesmo diante das diferenças em suas personalidades e motivações. Enquanto Caravaggio é reconhecido por sua expressividade artística e vida tumultuada, Ripley é retratado como um psicopata frio e calculista. No entanto, a trama explora essa relação, colocando ambos em situações “semelhantes” na conclusão.
A atração de Ripley por Caravaggio é alimentada por sua admiração pelo realismo violento das obras do pintor – como “As Sete Obras de Misericórdia” e “A Crucificação de São Pedro”, duas obras do artista que aparecem em cena – bem como pelo uso magistral de luz e sombra, que espelham a própria natureza sombria e manipuladora do personagem. Para além de seu estilo artístico, as características da vida conturbada de Caravaggio também se tornam fascínio para Ripley, entrelaçando-se com o tom obscuro que a trajetória do psicopata misterioso vai tomando.
Diversas obras-primas do pintor foram emprestadas para as filmagens, se fundindo com a direção de fotografia brutalista e impecável de Robert Elswit. A Itália, com sua carga histórica cultural e cenários de tirar o fôlego, serve como pano de fundo ideal para as complexas interações entre os personagens e os dilemas morais que enfrentam. Vale ressaltar ainda que a atmosfera melancólica e contrastante, característica marcante da estética de Caravaggio, é realçada pela paleta de cores em preto e branco, contribuindo para o clima de suspense e reforçando a sensação de que na trajetória de Tom Ripley, nada é como parece.
Desde sua estreia na Netflix, a série tem sido aclamada pela crítica, elogiada por sua narrativa sublime, atmosfera sombria e pelo elenco excepcional, com destaque para a interpretação de Andrew Scott no papel principal. Com uma trama repleta de reviravoltas e reflexões sobre temas como identidade, obsessão e moralidade, “Ripley” conquistou tanto especialistas quanto espectadores, firmando seu lugar como uma das mais queridinhas do momento.
E ainda falando em Caravaggio, sua última obra conhecida, “O Martírio de Santa Úrsula”, está atualmente em exibição na National Gallery, em Londres, revelando o estilo característico do artista, com cenas dramáticas e iluminação intensa.