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CADÊ OS YANOMAMI?

Diante das notícias tenebrosas a respeito do povo Yanomami, nunca foi tão importante manter a cultura indígena viva

por Beta Germano
Joseca Yanomami segurando uma obra de sua autoria. (Foto: Daniel Tancredi)

Nos últimos dias testemunhamos terríveis atos de violência contra o povo Yanomami. A menina de apenas 12 anos que foi estuprada e morta, a criança de três que está desaparecida e as outras 24 pessoas que sumiram da noite para o dia deixando como último vestígio uma pequena aldeia em chamas. Infelizmente, manchetes como as desta semana não são raras nos dias de hoje e a realidade dos povos indígenas parece ficar pior à medida que o tempo passa. 

As vozes dos povos indígenas, assim como suas culturas, crenças e religiões foram caladas e ocultadas ao longo dos séculos além de muito mal-interpretadas. Nunca foi tão importante proteger os indígenas, suas terras, origens e sua cultura. Artistas como Claudia Andujar e Sebastião Salgado dedicaram uma parte significativa de seu tempo a estudar, compreender, retratar e preservar os povos indígenas. 

Fotografia dos povos Awá, Sebastião Salgado (Reprodução. © Sebastiao Salgado/Amazonas/nbpictures)

Esses trabalhos não são apenas importantes por suas funções estéticas enquanto obras de arte, mas são mecanismos poderosos de transmissão de uma mensagem que transmite um grito de socorro. Sebastião Salgado é internacionalmente conhecido por mergulhar nas profundidades das florestas para documentar a vida indígena e alertar para as ameaças destes povos. Já Claudia Andujar mergulhou no universo dos Yanomami, usando a fotografia como instrumento de luta e de defesa. 

Jovem Yanomami, Claudia Andujar, 1972. (Reprodução)

Mas há ainda outras vozes no mundo dos artistas que representam os indígenas: a sua própria voz. Entre 2019 e 2021, três artistas indígenas participaram de exposições internacionais da mostra Árvores realizada pela Fundação Cartier para a arte contemporânea em parceria com o museu chinês Central de Arte. Durante essa mostra, que celebrava as árvores como fonte de inspiração para a sociedade humana, foram exibidos mais de 200 trabalhos de povos de diferentes lugares do mundo. 

Os três artistas são Joseca Yanomami, Ehuana Yaira Yanomami e Kalepi Sanoma, todos pertencentes ao grupo dos Yanomami. Eles desenvolveram suas aptidões artísticas de forma gradual e natural. Abaixo, contamos um pouco sobre a trajetória deles.

Joseca Yanomami

Joseca, nascido em terras indígenas Yanomami na região do Demini, localizada entre os estados do Amazonas e Roraima, se tornou o primeiro estudioso de línguas e o primeiro professor da comunidade Watoriki. Mais tarde foi pioneiro na área da saúde, período durante o qual também começou a esculpir animais na madeira e a desenhar. Seus trabalhos foram expostos pela primeira vez na França, durante uma exposição Yanomami intitulada “Espírito da Floresta, Histórias para ver, mostrar e contar”, em 2012, na Fundação Cartier. As edições da exposição Árvores foram a segunda ocasião em que suas obras foram exibidas internacionalmente. Joseca também trabalha como ilustrador de livros sobre tradições de seu povo desde 2014. 

Ehuana Yaira Yanomami

Ehuana Yaira Yanomami (Foto: Daniel Tancredi)

Primeira mulher Yanomami a escrever um livro em sua própria língua. Aos 37 anos de idade, ela é professora, artista, artesã, pesquisadora e liderança feminina na comunidade Watoriki. Em 2017, lançou seu primeiro livro em parceria com a antropóloga Ana Maria Machado e em 2019 foi uma das pesquisadoras do projeto Línguas Yanomami: diversidade e vitalidade. Ela apresentou seus desenhos pela primeira vez em 2019, na primeira edição da exposição Árvores

Kalepi Sanoma

Kalepi Sanoma (Foto: Daniel Tancredi)

O mais jovem entre os três artistas, Kalepi Sanoma, tem 27 anos e mora na comunidade de Katimani, na região de Auaris, localizada perto da fronteira do Brasil com a Venezuela. Kalepi faz parte de uma geração que transita entre conhecimento indígena e não indígena para capacitar seu povo. Seus trabalhos retratam a floresta, com suas paisagens e cenas típicas, cuidando para representar de forma fiel as relações ecológicas que existem dentro dela.

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