Quantas histórias cabem em um ano? É com essa pergunta que o artista Bruno Novaes apresenta a sua nova exposição Diário 366, que abre hoje no Centro Cultural dos Correios, em São Paulo. A mostra é um projeto colaborativo onde a documentação de sua história pessoal se mistura com a de voluntários, em um processo que se estendeu por um período de quatro anos.
O projeto teve início com registros diários feitos pelo artista no ano bissexto de 2016, usando diferentes linguagens, como texto, desenho, colagem e fotografia. Em seguida, os participantes escolheram datas e receberam as páginas correspondentes do caderno, digitalizadas e impressas em forma de cartão postal. Estes colaboradores responderam com o envio de itens que representavam o motivo da escolha por aquele dia, criando uma relação de troca de confidências com o artista.
Todo processo foi documentado em um grande calendário, onde Novaes fez o controle das devolutivas por meio de aquarelas dos itens recebidos. A mostra, além de apresentar as pinturas dessa catalogação anual, apresenta as páginas originais do diário do artista e todo o acervo recebido.
As escolhas das datas misturaram aspectos individuais e íntimos com acontecimentos culturais e coletivos, resultando em um arquivo que coloca objetos ordinários, trabalhos de arte, documentos pessoais e lembranças afetivas em um mesmo plano. Assim, criou-se um diário que se tornou uma narrativa coletiva das memórias, afetos e histórias de vida de mais de trezentas pessoas.
Longas cartas contando sobre experiências pessoais, fotografias, documentos e outros objetos estão entre os itens recebidos, que muitas vezes chegaram sem explicações. Entre eles, uma certidão de óbito, que levanta perguntas sobre como aconteceu tal perda. Em outro caso, foram enviados pares de ingresso de cinema e uma camiseta com cheiro de guardado, sugerindo um fim de relacionamento. Também chegaram ao artista documentos e coisas de família que aproximam histórias e personagens desconhecidos.
De modo geral, os itens acabam por exigir o uso da imaginação – do artista e do público – para a construção de narrativas ou expansão de significados, o que confere ao projeto um caráter simultâneo de documentação e narrativa de ficção. O artista foi premiado pela Lei Federal de Incentivo à Cultura Aldir Blanc e está trabalhando em um livro homônimo ao projeto que reunirá imagens, fragmentos e textos de Diário 366. O lançamento está previsto para acontecer no final da exposição.
Diário 366
Data: 18 de maio a 16 de julho de 2021
Local: Centro Cultural Correios SP
Endereço: Praça Pedro Lessa, s/n – Vale do Anhangabaú, Centro, São Paulo – SP