“Olá, Pia, li sobre sua história nos jornais. Você parece ser foda mesmo!”, escreveu Bansky, no ano passado, em um e-mail para Pia Klemp, capitã de barcos de ONGs que resgatam sobreviventes de embarcações naufragadas que transportam refugiados pelo Mar Mediterrâneo. “Eu sou um artista do Reino Unido e fiz alguns trabalhos sobre a crise dos migrantes, obviamente não posso ficar com o dinheiro. Você poderia usá-lo para comprar um barco novo ou algo assim? Por favor deixe-me saber. Parabéns pelo trabalho. Banksy.”. E assim começou uma história bonita revelada ao mundo semana passada: o artista financiou um barco que transporta, hoje, 89 refugiados pelo Mar Mediterrâneo que saíram do norte da África para a Europa.
Nos últimos meses, o lendário artista de rua expôs, em suas obras, várias questões políticas, incluindo o racismo sistêmico e a crise dos refugiados – tópicos, aliás, que têm incomodado bastante vários artistas pelo mundo. O fluxo humano pelo mundo cresceu significativamente nos últimos 10 anos e muitas pessoas que fogem de guerras, da fome ou de ameaças políticas morrem no translado pelo mar ou, quando chegam no novo território, sofrem na miséria por conseguir emprego ou permissão para viver ali.
Para chamar a atenção do mundo para o tema e tentar ajudar alguns, Banksy entrou em contato com Pia e juntos eles transformaram um barco que pertencia e era operado pelo governo francês em Louise Michel: a embarcação que homenageia uma anarquista francesa do século 19 irá dedicar-se, a partir de agora, a salvar vidas e buscar um porto seguro para desembarque na Europa. Com a palavra “Resgate” nas laterais, o exterior do barco também apresenta manchas de tinta rosa e um trabalho de Banksy retratando uma garota segurando uma bóia salva-vidas em forma de coração. No tweeter do Louise Michel, a descrição é “SAR = Solidarity and Resistance”
Sua tripulação inclui 10 ativistas europeus e Pia Klemp gerencia o navio que Banksy está financiando. No entanto, explicou ela ao The Guardian, o artista não participará fisicamente das operações de resgate. “Não vejo o resgate marítimo como uma ação humanitária, mas como parte de uma luta antifascista”, declarou Klemp. “Banksy não vai fingir que sabe melhor do que nós como dirigir um navio, e não vamos fingir que somos artistas”. Justo.