Dendê, charque, açúcar, sangue, pipoca, quiabo e muito mais. O artista baiano Ayrson Heráclito se apropria de elementos ligado ao processo de escravidão do Brasil-Colônia e à cultura Yorubá, tradição dos povos da África Subsaariana que chegou no país por meio dos indivíduos escravizados no século 19, para falar sobre histórias de dor e sonhos de liberdade. Não à toa, sua primeira individual no MAR recebe o nome de YORÙBÁIANO ( uma mistura de Yorubá com baiano).
A mostra, curada por Marcelo Campos, ocupa duas salas do museu e reúne importantes trabalhos do artista que ressalta os reis e rainhas, lideranças espirituais e políticas africanos, que chegaram aqui e permaneceram como fontes de saberes ancestrais e detentores de diversas tecnologias. Foram eles que ativaram, afinal, uma importante rede de ensinamentos, ritos e visões de mundo que compõem hoje a vitalidade e a herança da população afrodescendente brasileira.
Em sua produção, Ayrson refaz a memória para secar feridas históricas coloniais, abertas pela exploração dos corpos em busca de riquezas na cultura canavieira. Rememorar a história, nos trabalhos do artista, ganha um sentido de expurgação, de despacho. As feridas se juntam ao gesto de evidenciar algumas biografias, trazer rostos jamais conhecidos, rostos imaginados. Muitas vezes, as obras apresentam um caminhar performático e sagrado em luta, em êxtase, em revolta.
“A produção de Ayrson Heráclito descentraliza os discursos sobre as heranças afro- brasileiras muito pautadas no Sudeste e, ao mesmo tempo, assume um lugar de pesquisa e produção que hoje se internacionaliza. Ayrson Heráclito imagina a Bahia nagô e participa de festivais de fotografias na África e na Europa, retornando como discurso a espaços que dominavam o sistema da arte mundial”, ressalta o curador. Imperdível.
YORÙBÁIANO
Data: Até dezembro de 2021
Local: Museu de Arte do Rio Endereço: Praça Mauá, 5