A presença de artistas brasileiros conquistando destaque e reconhecimento global é uma realidade consolidada, demonstrada através de uma série de exposições individuais e coletivas, bem como participações em feiras, bienais e importantes coleções em diversas cidades pelo do mundo. Essa tendência destaca a diversidade e a qualidade da produção nacional e demonstra a crescente influência e relevância da cena artística brasileira no contexto internacional.
Essas participações, frequentemente em instituições prestigiadas, contribuem para a construção de uma narrativa mais ampla sobre a arte brasileira e sua inserção no contexto global. Ao abordar temas como identidade, diversidade cultural e questões sócio-políticas, os artistas ingressam em espaços onde cultivam e promovem uma maior compreensão da cultura brasileira, engajando-se em debates sobre políticas e práticas que fomentam a interação e o respeito entre diferentes culturas.
Atualmente, destacam-se diversos artistas importantes, desde os consagrados, como Lygia Pape na White Cube Seoul, Beatriz Milhazes na Tate St Ives e Rosana Paulino no Malba em Buenos Aires, até figuras contemporâneas proeminentes, como Tadáskía no MoMA, Aislan Pankararu na Salon 94, Luana Vitra na Mendes Wood DM e Rodolpho Parigi na Nara Roesler em Nova York, os quais propõem perspectivas atentas sobre a cultura, história e identidade do Brasil. Confira abaixo mais informações sobre 16 exposições:
“Projects: Tadáskía” no MoMA | Nova York, Estados Unidos – 24/05 até 14/10
Artista nascida no Rio de Janeiro, Tadáskía conquistou uma exposição solo no icônico The Museum of Modern Art – MoMA na cidade nova iorquina, em colaboração com o Studio Museum in Harlem. Sua obra “ave preta mística mystical black bird” foi adquirida pelo MoMA após ser apresentada na 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível em 2023. Com curadoria de Thelma Golden e Ana Torok do MoMA, juntamente com Kiki Teshome do Studio Museum in Harlem, a exposição “Projects: Tadáskía” apresenta um conjunto de desenhos, esculturas e instalações site-specific que exploram as experiências da diáspora negra em torno de encontros entre o familiar e o estrangeiro, trazendo narrativas imaginadas e místicas para o espaço do museu. Desta forma, Tadáskía passa a integrar o seleto grupo de artistas integrado por Ernesto Neto, Lygia Clark, Roberto Burle Marx e Tarsila do Amaral, que expuseram seu trabalho em um dos principais museus de arte moderna do mundo.
Erika Verzutti, “Notizia”, no ICA Milano | Milão, Itália – 10/04 até 19/07
Curada por Chiara Nuzzi e Alberto Salvadori, esta mostra marca a estreia individual da artista em Milão, exibindo uma seleção de esculturas em bronze, cerâmica, papel e resina criadas entre 2023 e 2024. O título, “Notizia”, reflete o impacto da sobrecarga de informação no processo criativo de Erika Verzutti, enquanto desafia convenções ao apresentar suas obras icônicas de forma horizontal, explorando temas como desobediência e irreverência. A exposição começa com uma reflexão sobre as explorações formais da artista em torno do conceito da torre, tradicionalmente concebida como uma figuração vertical, ao mesmo tempo em que questiona os métodos convencionais de exibição artística em museus, adotando uma abordagem experimental que investiga o espaço e seus significados. Obras como “Tower of Eggs with News” e “Venus Revolta” são destacadas, esta última explorando o corpo feminino e temas de fertilidade.
Lygia Pape na White Cube | Seoul, Coreia do Sul – 22/03 até 25/05
A White Cube Seoul apresenta uma exposição de obras de Lygia Pape, marcando a primeira vez que sua obra é exibida em Seul. Pape foi uma figura seminal no movimento de arte concreta e membro fundador do movimento neoconcreto, desempenhando um papel fundamental no desenvolvimento da arte contemporânea na América Latina. A exposição traça a trajetória de cinco décadas de carreira de Pape, exibindo algumas de suas obras mais conhecidas em desenho, escultura e instalação, onde ela foi pioneira em novas formas de abstração geométrica que questionam a dinâmica espacial entre obra de arte e espectador. A mostra destaca o trabalho inicial de Pape com formas construtivistas, sua transição para desenhos mais expressivos e suas investigações posteriores sobre volume e espaço.
“Ernesto Neto – Nosso Barco Tambor Terra” no MAAT | Lisboa, Portugal – 02/05 até 07/10
Ernesto Neto, artista brasileiro amplamente reconhecido internacionalmente, traz uma instalação imersiva intitulada “Nosso Barco Tambor Terra”, com curadoria de Jacopo Crivelli Visconti. A obra monumental é uma das maiores esculturas já criadas pelo artista e foi moldada ao longo de meses em diálogo com o espaço arquitetônico do MAAT e sua história simbólica, representando o ponto de partida das caravelas para as Américas. Utilizando materiais como lonas, cordas e principalmente chita, um tecido colorido e comum no Brasil, Neto crocheta e constrói células que compõem a escultura. A instalação incorpora instrumentos de percussão e é periodicamente ativada por músicos de diferentes partes do mundo, onde os ritmos das diásporas africana e asiática são destacados, sugerindo uma comunicação que excede as barreiras linguísticas. Os tambores presentes na obra também podem ser tocados pelo público, proposta que enfatiza a natureza coletiva e inclusiva da criação de Neto.
Rodolpho Parigi, “VOLUMENS”, na Nara Roesler | Nova York, Estados Unidos – 02/05 até 08/06
A sede da galeria brasileira em Nova York inaugura a primeira individual do artista paulistano na cidade, exibindo cerca de 35 pinturas inéditas realizadas nos últimos dois anos. O título da mostra remete à característica marcante na obra de Parigi: a criação de volumetrias complexas em pinturas bidimensionais. As obras, de cores intensas e formas ambíguas, sugerem partes de corpos, órgãos e abstrações escultóricas, enquanto o artista explora a ideia de “metamorfose”, destacando as semelhanças temáticas e formais entre as pinturas, organizadas para ressaltar seu percurso poético e investigações pictóricas. Desta forma, Parigi busca transfigurar corpos e ideias pré-estabelecidas, explorando fronteiras entre imagens reais e simuladas. Além disso a exposição incorpora referências ao Surrealismo, evidenciando a ambiguidade das formas e seu colorido exuberante, refletindo um universo onírico e absurdo.
Aislan Pankararu, “Endless River”, na Salon 94 | Nova York, Estados Unidos – 30/04 até 22/06
A exposição apresenta uma série de pinturas e desenhos de Aislan Pankararu, artista indígena da comunidade Pankararu do Nordeste do Brasil. Seu trabalho é influenciado por três correntes: o bioma da Caatinga brasileira, as tradições e culturas –especialmente a pintura corporal – de seu povo, e sua formação universitária em medicina. Utilizando pigmentos naturais e cores vibrantes, seu trabalho aborda temas de cura, conexão espiritual e a riqueza e preservação de comunidades e tradições ancestrais. Muitas das obras apresentadas estão ligadas ao ritual do Toré, uma dança sagrada que une o mundo terreno e espiritual na cultura Pankararu. “Endless River” é organizada em colaboração com a galeria Galatea de São Paulo e Alexandra Mollof Fine Art.
“Some May Work as Symbols: Art Made in Brazil, 1950s–70s” na Raven Row | Londres, Inglaterra – 07/03 até 05/05
A mostra destaca diálogos entre diferentes formas de abstração, simbolismo e figuração que circulavam na cultura visual do Brasil nas décadas em torno de meados do século 20. Desde as geometrias abstratas dos concretistas e neoconcretistas até a simbologia afro-brasileira, passando por representações do cotidiano, a exposição reúne obras de trinta artistas, muitas das quais nunca vistas antes no Reino Unido e reflete sobre algumas ausências ou exclusões na historiografia da arte brasileira. Realizada em colaboração com o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio), a mostra é curada por Pablo Lafuente, diretor artístico do MAM Rio, e Thiago de Paula Souza, curador independente e pesquisador. Estão presentes na mostra nomes consagrados como Abdias Nascimento, Amilcar de Castro, Djanira, Heitor dos Prazeres, Hélio Oiticica, Lygia Clark, Lygia Pape, Madalena dos Santos Reinbolt, Maria Auxiliadora, Mestre Didi e Rubem Valentim.
Luana Vitra, “Mineral Rising”, na Mendes Wood DM | Nova York, Estados Unidos – 30/04 até 25/05
Marcando a estreia individual de Luana Vitra em Nova York, a artista nascida em Contagem, no estado de Minas Gerais, destaca-se como uma das figuras mais proeminentes de sua geração. Seu trabalho abrange instalações, esculturas e frequentemente apresenta metais, minério de ferro e cobre, além do uso de cerâmica, madeira e tecidos, dialogando criticamente com as histórias da exploração de elementos naturais e as tradições da região em que cresceu. Seus primeiros trabalhos estavam enraizados na geografia de Minas Gerais, mas as peças apresentadas em “Mineral Rising” são principalmente o resultado das frequentes viagens de Vitra à África do Sul, entre 2022 e 2024.
“Beatriz Milhazes: Maresias” na Tate St Ives | Saint Ives, Reino Unido 25/05 até 29/09
A Tate St Ives apresenta uma retrospectiva da renomada artista brasileira Beatriz Milhazes, reconhecida por suas telas abstratas de grande escala e rica paleta de cores. A mostra traça a evolução de sua abordagem artística ao longo de quatro décadas, desde sua ascensão nos anos 1980 como figura proeminente da Geração Oitenta até suas influências contemporâneas. Milhazes, nascida no Rio de Janeiro, é influenciada por uma variedade de fontes, incluindo o modernismo brasileiro e europeu, a iconografia católica e a cultura vernacular do Brasil. Sua técnica distintiva de ‘monotransferência’ – na qual pinta seus motivos em folhas de plástico antes de transpô-los para a tela –, desenvolvida em 1989, permite-lhe criar obras exuberantes e com densas camadas, mantendo a fidelidade das cores e intensificando os efeitos dos pigmentos fluorescentes e metálicos. A natureza, especialmente a brisa do mar salgada de Maresias, onde ela reside, é uma fonte constante de inspiração para suas obras, refletindo-se nas paisagens ao redor de seu estúdio e nas formas naturais presentes em suas pinturas.
“Histórias Indígenas” no Kode Art Museum | Bergen, Noruega – 25/04 até 24/08
Após a grande repercussão da exposição “Histórias Indígenas” no MASP, em São Paulo, a Kode Art Museum, em colaboração com o famoso museu da Av. Paulista, traz agora uma visão abrangente da experiência indígena das Américas, Oceania e região nórdica para Bergen, Noruega. A mostra apresenta obras de mais de 170 artistas, englobando diversos períodos e mídias, organizadas em oito seções – 7 dedicadas a cada região específica e uma seção temática dedicada ao ativismo indígena ao redor do mundo. Curada por artistas e pesquisadores indígenas, a exposição proporciona uma perspectiva plural das histórias dessas comunidades, acompanhada por publicações em vários idiomas.
Rosana Paulino, “Amefricana”, no Malba | Buenos Aires, Argentina – 22/03 até 10/06
A mostra marca o início do calendário de exposições de 2024 no Malba, e apresenta uma retrospectiva da obra da artista nascida em São Paulo em 1967, abrangendo trinta anos de sua produção. Nas suas intervenções poéticas, que inclui instalações, desenhos, gravuras, bordados e esculturas, Paulino aborda a escravidão e a violência da diáspora africana no Brasil como eixo central de sua prática, a qual, além de artística, também é pedagógica e militante, problematizando a história e a construção étnica da nação brasileira. O título “Amefricana” remete ao conceito de “amefricanidade”, evidenciando as identidades individuais daqueles que compartilham laços culturais afrodescendentes. Ademais, os curadores Andrea Giunta e Igor Simões, destacam a relevância do trabalho de Paulino na construção da narrativa histórica da mulher negra na sociedade brasileira e latino-americana.
Amadeo Luciano Lorenzato na David Zwirner | Nova York, Estados Unidos – 11/04 até 25/05
Mais conhecido como Lorenzato (1900–1995), o artista nascido em Belo Horizonte, Minas Gerais, tem seu trabalho apresentado pela segunda vez na galeria e nos Estados Unidos. Reconhecido entre os principais artistas brasileiros de sua geração, Lorenzato desenvolveu um corpo singular de pinturas, focando em suas observações dos assuntos cotidianos que encontrava em sua cidade natal – como favelas, paisagens semi-urbanas e cenas de agricultura e indústria rural. Suas pinturas, que destacam-se por suas formas geométricas simplificadas e texturas densas, refletem uma intersecção entre a arte brasileira e movimentos modernistas globais, enquanto Lorenzato, influenciado pela ideologia antropofágica, evita influências diretas da arte europeia.
“Dan Lie: 36 Months of Loss” na Art Sonje Center | Seoul, Coreia do Sul – 16/02 até 12/05
A exposição solo de Dan Lie marca sua estreia na Coreia, apresentando obras que exploram a interação entre vida e morte, humanos e não humanos. Lie transforma o espaço expositivo em ecossistemas dinâmicos, colaborando com elementos naturais e questionando conceitos tradicionais de nascimento e luto. Além disso, atores “outros-que-não-humanos” como microorganismos, fungos e bactérias que ocorrem durante o processo de decomposição e fermentação atuam como colaboradores que aceleram esse processo cíclico. Sua abordagem trans-não-binária destaca a importância da decomposição e fermentação como símbolos de transição. As instalações, incluindo a fermentação de makgeolli – um vinho de arroz típico da Coreia – e elementos da cultura funerária coreana, ocupam o Ground do Art Sonje Center, enquanto seu diálogo com “outros que não humanos” desafia a perspectiva antropocêntrica.
Ione Saldanha, “The Time and the Color”, na Salon 94 | Nova York, Estados Unidos – 30/04 até 22/06
Destacando a obra da pioneira modernista brasileira, a Salon 94 apresenta pinturas que abrangem as décadas de 1950 a 1980, desde suas representações iniciais de paisagens urbanas até experimentações em abstração geométrica e obras posteriores de abstração absoluta, incluindo esculturas de bambu. A produção de Saldanha reflete uma preocupação com a representação da cidade e elementos arquitetônicos, transitando gradualmente para a abstração geométrica ao longo de sua carreira. Contextualizada no cenário político e social do Brasil da segunda metade do século XX, suas obras captam referências internacionais à procura de mais liberdade artística em meio a regimes autoritários no país. Além disso, sua paleta de cores e composições incorporam influências da cultura popular brasileira, enquanto as pinturas de bambu destacam a conexão entre natureza e abstração.
Fernanda Galvão, “Sibila”, na Andersen Gallery | Copenhagen, Dinamarca – 12/04 até 08/06
Inspirada pelas gravuras detalhadas e conceituais de Maria Sibylla Merian – ecologista e ilustradora científica alemã do século XVII que estudou plantas e insetos destacando a metamorfose e interconexão entre espécies e fez pinturas detalhadas sobre eles –, Galvão retrata um mundo onde as espécies interagem em constante mutação. Utilizando uma paleta de cores intensas e texturas carregadas, suas obras exploram paisagens imaginárias, onde as formas orgânicas se fundem em uma dança de metamorfoses, sugerindo um sentido de movimento e duração. Assim como Merian, Galvão também incorpora a influência da natureza e da ciência em suas criações, mesclando elementos da flora tropical e da biologia celular para imaginar realidades fictícias de um futuro distante.
Itinerância da 35ª Bienal de São Paulo no Malba e no Palácio Pereda | Buenos Aires, Argentina – 20/03 até 27/05
A 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível chega a Buenos Aires em uma parceria com o Ministério das Relações Exteriores e o Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires – Malba, marcando sua primeira exibição internacional fora do Brasil. Com curadoria de Diane Lima, Grada Kilomba, Hélio Menezes e Manuel Borja-Villel, a mostra apresenta obras de oito artistas (incluindo os brasileiros Arthur Bispo do Rosário, Aurora Cursino dos Santos, Ubirajara Ferreira Braga, Aline Motta e Gabriel Gentil Tukano) em dois locais distintos: o Malba e o Palácio Pereda. A exposição explora as complexidades do mundo contemporâneo, tensionando os limites entre o possível e o impossível, o visível e o invisível, por meio de uma abordagem poética.