A arte brasileira tem se destacado internacionalmente nos últimos anos, com participações marcantes em grandes mostras sasonais como a Bienal de Veneza e a Documenta de Kassel, além de coletivas e individuais em instituições de peso. Este ano de 2019, no entanto, é marcado por uma presença destacada de artistas brasileiras no circuito estrangeiro.
A artista brasileira Jac Leirner, por exemplo, foi anunciada como ganhadora do prêmio Wolfgang Hahn no final do ano passado, e ganhará em abril uma retrospectiva no Gesellschaft für Moderne Kunst am Museum Ludwig, em Colônia, na Alemanha. Essa será a primeira vez que uma artista sul-americana receberá o prêmio, de mais de 100 mil dólares. Mas mesmo antes de sua ida à Alemanha, Leirner participa pela primeira vez da mostra “Portadores de sentido – Arte contemporânea na Colección Patricia Phelps de Cisneros“, organizada pela Fundación Cisneros no Museo Amparo, em Puebla, no México. Ao lado de artistas de destaque, como o mexicano Mario García Torres, e outros nomes da Colômbia, Argentina, Costa Rica, Cuba, entre outros, o trabalho de Leirner se destaca pela incorporação de objetos e elementos banais – normalmente descartados até – em operações que ressignificam e subvertem seu uso e sua estética. Na mostra, Azuis [Blues], de 1990, consiste em uma série de sacolas plásticas montadas de maneira a criar uma grande curva azul na parede.
Outro destaque internacional entre as artes brasileiras é Anna Maria Maiolino. Além de sua mostra em cartaz na galeria Luisa Strina até o final do próximo mês, Maiolino está preparando uma individual no PAC de Milão, com abertura prevista para 29/03/19. Inspirada pelo imaginário cotidiano do universo feminino e de suas experiências durante o período repressivo e de censura da ditadura militar no Brasil, a artista de origem italiana apresenta um percurso de sua pesquisa e produção, abrangendo as diferentes linguagens e suportes que empregou ao longo de toda sua carreira – da escultura à performance, da fotografia ao vídeo, do desenho à instalação.
Mas não são só as veteranas mais experientes têm alçado voos mais altos em terras estrangeiras. A paulistana Erika Verzutti abriu no dia 18/02/19, para convidados, o preview de sua individual em Paris, no Centre Pompidou. A visitação do público se inicia em 20/02/19, mas as redes sociais já foram inundadas com fotos postadas por artistas, críticos e curadores que foram à abertura prestigiar a escultora. Parte do programa “Mutations/ Creations 3” do museu, a primeira grande mostra solo de Verzutti na Europa traz esculturas que mimetizam formas naturais de animais, frutas e plantas, em associações inusitadas e surreais. A exposição celebra a carreira de Verzutti e sua auro-proclamada indisciplina, sua recusa em conformar com padrões de uma arte mais conceitual, ou de contornos bem definidos, a liberdade provocativa que toma em suas formas – cheias de irreverência, humor e ironia.
Já a artista Juliana Cerqueira Leite, hoje radicada em Nova York, recebeu neste início de 2019 um dos mais prestigiados prêmios da Pollock-Krasner Foundation, organização estadunidense que tem como foco o estímulo e o desenvolvimento de suportes tradicionais como o desenho, a pintura e a escultura. As bolsas e prêmios da instituição podem ser usados para diversos fins, inclusive pessoais. A artista foi ganhadora de uma bolsa de produção, e usará os recursos recebidos para organizar uma da norte-americana. O recurso doado será para uma exposição no Museo Archeologico Nazionale di Napoli, na Itália, prevista para o segundo semestre.
É curioso perceber a crescente inserção de brasileiros neste circuito, associada também à proliferação de mostras bienais e trienais e de incontáveis feiras de arte que fomentam a circulação expandida pelo mundo. Mas é notável, especialmente, o destaque dado particularmente às mulheres – historicamente preteridas tanto no mercado quanto na esfera institucional e hoje alvo de esforços de resgate e reescrita da história da arte (antiga e recente). Este movimento muitas vezes é alimentado pela valorização comercial da arte brasileira e pode ser passageiro. No entanto, esperamos que a produção do Brasil possa sempre alcançar mais e mais públicos, expandindo fronteiras e horizontes para além do nosso território.