Artista Aposta: Nicholas Steinmetz

Nicholas Steinmetz constrói sua pintura como território de experimentação, expandindo imagens, corpos e referências para além da tela

por Diretor
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Retrato de Nicholas Steinmetz. Foto: Erik Kuroo

Nicholas Steinmetz e a pintura que habita

Nascido em São Paulo e radicado em Curitiba, Nicholas carrega no traço uma bagagem que vem do território gráfico, de quando começou a brincar com narrativas visuais nos quadrinhos e nas publicações independentes — fase que coincidiu com seus estudos em Design. Desde 2016, quando iniciou sua carreira artística, essa época ainda habita suas obras, construídas em camadas de tinta, referências e histórias pessoais que escapam da tela. “A base dos quadrinhos, a ideia de narrativa e composição, são elementos que vão estar comigo sempre”, diz.

O artista desenvolve sua pintura em diálogo com a própria prática, transformando o processo em um território de experimentação. Em vez de definir cada obra de modo planejado, ele busca que as imagens surjam de forma quase instintiva, a partir de fragmentos de livros, da internet e do mundo. Quem já visitou seu ateliê sabe: as paredes estão cheias de recortes, referências visuais e anotações, o que cria uma espécie de colagem expandida que alimenta a própria pintura. Como ele mesmo explica: “Normalmente não planejo a composição das minhas pinturas com algo específico em mente, apenas essa montagem/colagem de figuras que me rodeiam.” É nesse encontro — muitas vezes inesperado — que o trabalho ganha força, permitindo que cores, gestos e atmosferas se contaminem e estabeleçam diálogos entre diferentes obras.

Nicholas Steinmetz, “Narrativa”, 2025

Seus trabalhos orbitam por temas como corpo, gênero, espaço, rituais e memória, incorporando também suas vivências como homem trans, que estão presentes de forma sutil, integradas à multiplicidade de sentidos de sua produção. Não há uma narrativa fechada, mas um emaranhado de figuras humanas, animais, objetos e fragmentos que se acumulam na superfície.

Apesar de morar atualmente em São Paulo, Nicholas desenvolveu grande parte da sua pesquisa em Curitiba, muitas vezes distante do eixo Rio-SP, onde a troca e a visibilidade costumam ser mais intensas. Ele comenta que a movimentação de sair de Curitiba foi essencial, mas que ainda carrega muito do que aprendeu fora do grande circuito.

Nicholas Steinmetz, “Parceria”, 2025

Em 2024, ocupou 400 metros quadrados do Museu Oscar Niemeyer durante a residência Sala Aberta do MAC Paraná, transformando o espaço em ateliê aberto e exposição ao mesmo tempo. Acostumado a trabalhar em formatos menores, ele aproveitou a oportunidade para experimentar com grandes estruturas, incorporando madeira, técnicas de pintura em camadas e improvisos que desdobram seus estudos de corpos e movimentos. A mostra que encerrou sua ocupação, intitulada Pé de Galinha, faz referência a uma estrutura improvisada de suporte usada em diversos de seus trabalhos. Com ela, as telas bidimensionais ganham volume e se tornam tridimensionais, em que camadas sobrepostas sugerem cenas em construção.

Vista da exposição “Pé de Galinha”. MAC Paraná, Museu Oscar Niemeyer, Curitiba, 2024

Felipa Queiroz, autora do texto crítico da mostra, observa que o trabalho de Nicholas opera em um “vai e vem entre figura e abstração, madeira e pano, lápis seco e pincel úmido, bidimensionalidade e tridimensionalidade”. Ela comenta também sobre a tensão constante entre forma e matéria — um movimento que, segundo ela, se aproxima de um certo “body-horror” e sugere uma busca por entender a fisicalidade do processo. A figura do “pé de galinha” — utilizado como base para as telas — torna-se corpo e suporte, metáfora de uma pintura que não se pretende imóvel.

Para Joanes Barauna, uma das curadoras da exposição junto a Carolina Loch, Nicholas compõe “um léxico visual próprio, povoado por figuras humanas, animais, seres híbridos, vasos e aves”, onde cria uma espécie de mitologia íntima em constante elaboração. “Não há uma narrativa a ser desvendada”, afirma Joanes, “mas um arranjo sensível de elementos que tensionam a convivência entre o figurativo e o informe, o cotidiano e o imaginado.”

Além de artista, Nicholas é também um dos fundadores do Espaço Totó, junto a Felipa Queiroz e Mariani Pessoa, um espaço independente que funciona como ateliê coletivo e abriga exposições e outros projetos culturais. “Essa ideia de abrir o espaço de ateliê para o expositivo surgiu muito dessa vontade de tirar nosso trabalho do lugar de ‘apenas ateliê’ e colocá-lo num contexto em que a montagem faz parte do processo poético”, comenta.

Com referências que vão do cineasta Peter Greenaway ao filósofo e historiador da arte Georges Didi-Huberman, da artista Ida Applebroog até artistas e repertórios que fazem parte do seu convívio, o artista busca uma prática que também seja processo e experiência. Algo que não se encerra na tela e nem pretende ter fim.

Desde 2022, Nicholas participou de diversas exposições coletivas e realizou quatro individuais, incluindo Pé de Galinha no Museu de Arte Contemporânea do Paraná. Em 2025, ele exibe trabalhos em diferentes contextos: Gruta – Diálogos e Narrativas (São Paulo – SP), com curadoria de Camilla Bologna; Ora – Na Ponta da Língua (São Paulo – SP), sob curadoria de Carollina Carreteiro; e Dispositivos de Contra-Memória (Virtua 3000, Rio de Janeiro – RJ), com curadoria de Marina Leite.

Nicholas Steinmetz, “Nós”, 2025

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