Quando criança, nas viagens em família, Adriano Gambarini ficava hipnotizado observando as passagens enquadradas pela janela do carro: “Vales e montanhas, campos e matas despontavam diante dos meus olhos e eu ficava imaginando como aquele ambiente tinha se formado. Por que uma colina ali, e um rio sinuoso lá? O que condicionava tudo isto de uma forma tão superlativa?”, lembra o artista. Tudo estimulava a percepção de seu entorno, aguçava o seu olhar e crescia uma vontade incontrolável de compreender melhor os fluxos, temporalidades e transformações desta Terra repleta de tantos territórios incógnitos.
Imagens de vulcões em erupção, cordilheiras geladas e mares bravios sobre encostas de pedra tão distantes do Brasil permeavam sua imaginação. O que conduzia esta harmoniosa variedade de cenários? Estudou Geologia em busca de respostas e encontrou explicações técnicas. Mas não parecia o suficiente para decifrar tantos enigmas.
Foi por meio das lentes que ele descobriu luz, sombra, cores e texturas. Encontros que fizeram germinar, dentro dele, ainda mais perplexidade diante da impermanência e das belezas – por vezes sutis, outras monumentais – desse lugar que não é “nosso”, mas faz parte de nós.”Precisamos compartilhar o que temos diante dos nossos olhos, porque é a única forma de sermos cúmplices. Valorizar os momentos, silenciar os pensamentos e simplesmente ser parte disto tudo. Daí vem o significado de pertencimento”, explica.
Como fotógrafo, Adriano Gambarini já caminhou sobre todos os continentes assinalados no Mapa Mundi. Das florestas primitivas da Oceânia aos pântanos misteriosos americanos. Das cores monocromáticas do frio antártico às areias que dançam ao sabor do vento no continente asiático. Da imponência amazônica às águas nada calmas do Oceano Pacífico.
Nessa jornada, sua câmera foi atravessada também com sabedorias ancestrais presentes em construções igualmente enigmáticas e envolventes que rasgam essas paisagens com linhas arquitetônicas – precisas e duras ou sinuosas e sedutoras. Elas nos fazem perceber que somos capazes de transformar o mundo para nossa própria sobrevivência. Mas é preciso fazê-lo respeitando os movimentos e sistemas deste grandioso e místico planeta.