Não há crise social, econômica ou de saúde que segure galeristas e colecionadores. No início da pandemia do Covid-19, muitos questionaram a necessidade de tantas feiras pelo mundo – em 2019 foram contabilizadas mais de 300 feiras espalhadas pelo mundo! Os colecionadores não conseguem acompanhar o calendário e já não acham mais graça em tanto jet lag; a própria montagem dos eventos não é nada ecológica; e, os artistas entram num looping de produção sem tempo de reflexão sobre o próprio trabalho e acabam entregando (fatalmente) peças de menor qualidade.
Sete meses depois dessas discussões: tudo mudou e nada mudou. De fato, muitas feiras físicas tendem a desaparecer ( depois do sucesso da Art Rio, não sabemos ainda se essa profecia de fato se concretizará!), mas as feiras on-line que nasceram nos últimos meses provam que elas podem ser tão lucrativas quanto as presenciais. E o que é mais assustador: tendem a ser mais numerosas!
Prova disso está na própria Art Basel que se desdobrou em novas feiras, além das tradicionais. Em Março, eles saíram na frente fazendo a primeira versão online das grandes feiras internacionais e lançou o viewing room da Art Basel Hong Kong. Em junho, anunciaram a versão digital da Art Basel da Basileia, conectados com temas do momento como a intensificação do movimento #BlackLivesMatter. Em setembro, fizeram uma edição temática com obras feitas somente em 2020.
Agora, entre os dias 28 e 31 de outubro, galerias do mundo inteiro apresentam trabalhos em mais uma edição: a OVR:20c conta com mais de 600 obras apresentadas por 100 galerias, a maioria foi criada após a Segunda Guerra Mundial. A participação brasileira nesta edição é significativa. Luisa Strina apostou no na ideia de “conceitualismo neo-geométrico” , apresentando trabalhos de Anna Maria Maiolino, Fernanda Gomes, Lygia Pape, Mira Schendel e Cildo Meireles. “O Neo-geo surgiu no início dos anos 1980 na América do Norte para contextualizar a obra de um grupo de artistas que criticava a “geometrização da vida moderna”. Abordagem semelhante já ocorrera no Brasil na década de 1960, influenciada pelas ideias do pós-estruturalismo”, revela o texto divulgado pela galeria.
A Fortes D’Aloia Gabriel selecionou obras históricas dos anos 1990 de Leda Catunda, Jac Leirner, Beatriz Milhazes, Valeska Soares e Adriana Varejão, cujas presenças foram centrais para a “cena vibrante que floresceu no Brasil no final dos anos 1980 e 1990″. A mostra digital ” Five Women Artists in Brazil in the 1990s” revela para o mundo o momento em que o país via o fim de sua ditadura militar e nascia uma geração quepoderia finalmente se envolver em um diálogo global. A Bergamin & Gomide, elaborou a mostra The mystery of living things explorando a ideia de natureza e de como ela impressiona o homem por sua força, autossuficiência, beleza espontânea e todos os ensinamentos. A galeria reuniu, portanto, obras de Oswaldo Goeldi; João Cosmo Felix (Nino); José Antônio da Silva, Rivane Neuenschwander, Nicolau Facchinetti, Marcel Giró, Amadeo Luciano Lorenzato, Frans Krajcberg, Francisco Brennand; Montez Magno;Mira Schendel, Amelia Toledo; José Resende; entre outros.
A galeria Nara Roesler criou um diálogo interessantíssimo entre obras criadas por Antonio Dias e da Karin Lambrecht, entre os anos 1980 e 1990. Já a galerista Luciana Brito elaborou a mostra Ruptura, selecionando obras de Waldemar Cordeiro e Geraldo de Barros. Enquanto a Dan Galeria optou por homenagear Amilcar de Castro, que completaria 100 anos em 2020; a Mendes Wood DM elabotou uma seleção de obras feitas em madeira e latex incluindo obras de nomes internacionais como Heidi Bucher e Kishio Suga ao lado de Sergio Camargo, Paulo Monteiro e Rubem Valentim. Confira abaixo alguns dos trabalhos mais interessantes!