O interesse do artista Arjan Martins pela Diáspora Africana e migrações afro-atlânticas do período colonial no Brasil vai muito além de apenas retratar os antepassados ou os descendentes. Seus trabalhos percorrem também a cartografia e os formatos navegatórios, que chegam como elementos muito significativos desse período histórico e toda a formação que se deu a partir dali. “O primeiro objeto de pesquisa que chamou a minha atenção foram as cartografias, pois o Brasil está transbordando de histórias nesse atlântico hipercomplexo, é um tema muito rico e controverso”, explica o artista.
Algumas de suas obras mais conhecidas trazem bússolas, caravelas ou mapas, signos de coisas que foram cruciais para que colonizadores atravessassem os oceanos levando africanos para uma rota cruel e abominável, a da escravidão.
Tendo sua formação iniciada na década de 90 no Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Arjan se interessou justamente por estudara pintura, uma técnica que naquele momento o cenário da arte contemporânea estava se afastando, com artistas buscando experimentar outras mídias. A dificuldade financeira na época fazia com que o acesso dele a materiais mais requintados para a produção fosse um tanto cerceada. Sua maior fonte de ferramentas eram os materiais que encontrava enquanto caminhava pela rua e recolhia para usar como fonte para suas criações. O desenho também foi muito importante durante o período que esteve estudando ali, era uma forma que ele encontrava de organizar suas ideias para depois transpô-las em outra técnica.
Em suas andanças pela cidade do Rio de Janeiro, de onde é natural, Arjan encontrou em um sebo fotografias antigas de pessoas de origem afro e decidiu retratar essas pessoas à tinta, na tela. A priori, o interesse era apenas de passar para a tela aquelas figuras, não era necessariamente sobre uma questão de identidade. Porém, no decorrer dos trabalhos que vieram a partir dali, ele percebeu que queria dedicar-se aos rostos e corpos que eram marginalizados pela sociedade, as pessoas negras, segregadas no Brasil pelo racismo estrutural ao longo da formação do país.
A partir dali, ele passou a utilizar fotografias, em sua maioria de pessoas, para compor seus trabalhos. Algumas delas repetiu diversas vezes, em cores e com composições diferentes em cada uma delas. “Elas surgem, na tela, sem os rostos, pois queria falar de identidade preservando-as. Foi interessante notar que muitos brasileiros, o espectador em geral, confundiam aquelas figuras com seus familiares, suas histórias. Eles se viam naqueles personagens”, ele conta.
As telas de Arjan encantam e trazem reflexões pelo mundo todo. Ele já expôs em várias das instituições mais importantes do Brasil e teve trabalhos em importantes bienais pelo mundo, como a Bienal de Dakar e a Bienal do Mercosul. Além disso, coleções muito relevantes, tanto públicas quanto privadas, já adquiriam obras dele para seus acervos.