Misturando histórias locais e atuais; narrativas oficiais e ocultas; e, vivências pessoais, Anotnio Obá já conquistou o mercado brasileiro com suas perfomances e pinturas. Agora é hora de voar! Depois do sucesso de apresentações na Basileia e Paris, durante as principais feiras de arte européias, ele apresenta sua primeira individual em Bruxelas, na sede da galeria Mendes Wood.
Outros Ofícios ocupa os dois pisos da galeria e é composta por novas obras em tela e em papel, todas realizadas entre 2020 e 2021. As composições de Obá baseiam-se em um vasto panteão de fontes, desde fotografias pessoais de família e imagens de arquivo de eventos históricos à cultura popular, mitos e lendas. Cruza simbolismos extraídos da tradição religiosa judaico-cristã ocidental com elementos místicos dos sistemas religiosos sincréticos que se desenvolveram no Brasil e na América do Sul – resultado do grande fluxo de africanos escravizados no continente durante os processos de colonização. Ou seja: narrativas e símbolos das religiões da diáspora africana – como o Candomblé, o Voodoo e a Santeria – aparecem ao lado do imaginário cristão dos colonizadores do Novo Mundo.
A imagem de uma figura histórica como Ruby Bridges, por exemplo, a primeira garota afro-americana matriculada em uma escola primária para alunos brancos em Nova Orleans, em 1960, se confunde com o mito de Santa Lúcia de Siracusa que, por sua vez, também se transforma em Ewa, uma personagem feminina da mitologia Yoruba.
Em outra pintura, um dos mais famosos santos cristãos, São Tiago o Grande, torna-se o Orixá Ogum, o deus guerreiro das tradições yoruba. A entidade segue os passos de um menino cuja imagem é tirada de uma fotografia de Miguel, o menino de cinco anos que caiu de uma varanda em Recife, no Brasil, em 2020, e cuja morte gerou um escândalo por evidenciar o racismo estrutural da sociedade brasileira.
Com essas associações inusitadas e, ao mesmo tempo, coerentes, Obá aborda temas como política racial, corrupção política, colonialismo e escravidão, além de questões de pertencimento, religião e espiritualidade – todas questões muitos presentes desde o Brasil colonial e ainda no contemporâneo. “Enredado na teia de um passado cruel, que por vezes teima em soprar ares sinistros para o presente, procuro puxar o fio da história, tecendo com formas, gestos e cores composições que proponham a revisão dos fatos ou se envolvam numa iconografia quase ritualística”, explica o artista.”É uma jornada que ao invés de reviver imagens de dor, sublima e transfigura a dor como forma de nos compreendermos melhor”, conclui.
Outros Ofícios
Data: Até 06 de junho
Local: Mendes Wood DM
Endereço: 13 Rue des Sablons / Zavelstraat