Depois de Anish Kapoor sacudir o mundo das artes com uma carta aberta, publicada no ArtNet, pedindo para que pessoas parem de rotular os artistas e seus trabalhos com base em sua etnia ou cultura de origem, Anish Kapoor abriu, esta semana, uma individual no Houghton Hall – um palácio inglês, situado na zona rual de Norfolk, projetado em 1720 por Sir Robert Walpole.
Diferente do seu irreverente show no Palácio de Versalhes – a obra “Dirty corner”, definida pelo artista como a “vagina da rainha tomando o poder”, chegou a ser vandalizada por conservadores – esta mostra é contida, bem-educada e discreta. Respeitosa em relação ao entorno, a mostra compreende 24 esculturas, feitas principalmente em materiais terrosos e naturais – calcário, granito, mármore, ônix -, além de uma seleção de desenhos e trabalhos menores, representativos do conjunto inovador de trabalhos de Kapoor, criado nos últimos 40 anos.
A série, que desafia a arquitetura clássica do palácio e beleza bucólica dos jardins, foi selecionada e distribuída pelo curador Mario Codognato de maneira a convidar o espectador para uma experiência calma e contemplativa – observando a opulência do lugar que já recebeu exposições de artistas contemporâneos como Richard Long, Damien Hirst, Henry Moore e James Turrell.
Os espelhos de Kapoor, polidos com perfeição impossível, têm sido sua obra mais conhecida há muitos anos – você certamente já passou por um deles na SP Arte e fez uma selfie nele ( ou pelo menos quis fazer!) . Fabricadas repetidamente em diferentes tamanhos e formas, elas podem ter diferentes tons: desde rosa avermelhado ou pêssego até intensos azuis ou amarelos. Podem ser reluzentes ou opacos. Para a Stone Hall, o escultor apresenta os discos com cores ricas e em degradê ou manchas, semelhantes a jóias: rubi, granada, ouro, safira com reflexos profundos de esmeralda – sempre com o objetivo de tornar as múltiplas reflexões do espaço formal ao redor em algo exuberante.
No centro, uma bolha disforme de mármore brilhante intitulada Mollis (macio ou delicado em latim), evoca uma vagina, lábios ou a parte de trás de uma garganta. No lado de fora, vale conferir as abstrações de mármore ou pedra que formam peças com curvas mais suaves, ambíguas e eróticas. E, na frente da casa, esculturas mais pesadas e brutas compostas por um jogo de blocos e retângulos. Sobre elas, o crítico Jan Dalley, do Financial Times, que já pode visitar a mostra, revela: “Eu raramente vi sua mágica mais poderosa do que aqui, com o amplo céu de Norfolk, azul brilhante com formas de nuvens fofas e agitadas, brincando em sua superfície. As reflexões evocam um desfile quase cinematográfico de ilusões de ótica: num momento parece uma esfera surrealmente flutuante, no seguinte é como se alguém tivesse arrancado um pedaço da tela de um Old Master e o tivesse suspendido no jardim. (…) É fascinante ver este espetáculo por horas”. Lord Cholmondeley, proprietário de Houghton, concorda: “Anish Kapoor é um mágico. Suas elegantes peças refletivas retrocedem o mundo de maneiras misteriosas”.