Ana Calzavara entre a gaivota e o drone

Individual da artista sugere uma tensão manifesta entre o desejo pelo intocado e a vigilância da era stalker

por Beta Germano
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Over the Horizon (I). Ana Calzavara, 2022.
Over the Horizon (I). Ana Calzavara, 2022.

Em sua primeira individual na Galeria Marília Razuk, Ana Calzavara propõe uma síntese de duas ideias aparentemente opostas: o idílico e o vigiado. Utilizando suportes múltiplos suportes – pinturas, impressões digitais e gravuras em madeira -, a artista se valeu de imagens que compõem o imaginário humano da natureza intocada para colocá-las em contraposição com o modelo de hipervigilância da contemporaneidade.

A exibição, Além do Horizonte, é uma dupla referência que reflete essa tensão: se, por um lado, é homônima à canção de Roberto Carlos que fala de um lugar paradisíaco e isolado para celebrar seu amor, também remete a um sistema de radar altamente avançado, de tecnologia pouco acessível para a maioria dos países e utilizado para detectar alvos a centenas de quilômetros, além da curvatura terrestre – o Over The Horizon. Coincidência ou não, no Brasil esse equipamento se encontra situado em uma praia de difícil acesso sob controle da Marinha, no extremo sul.

Over the Horizon (II). Ana Calzavara, 2022.
Over the Horizon (II). Ana Calzavara, 2022.

A artista, que busca referências em autores como Byung Chul-Han e Liv Strömquist para pensar o impacto do digital na maneira como vivemos, utiliza a impressão digital como uma forma de diluir as características quase românticas das pinturas que têm por tema essas paisagens. De forma similar, há um intercâmbio intrigante entre a mão e a máquina nas obras que são reinterpretações feitas com maquinário a laser de obras anteriores encavadas artesanalmente.

Antena. Ana Calzavara, 2022.
Antena. Ana Calzavara, 2022.

Para Calzavara, trata-se de de um contraponto entre desejo e possibilidade, característico de uma maneira de pensar a paisagem como um reflexo da vida contemporânea – e, portanto, das incertezas que ela carrega. Trata-se do espaço do híbrido, do “estar entre”, característico de Ana Calzavara que, propondo um diálogo entre diferentes expressões artísticas, retrata espaços que estão sempre prestes a se desfazer.

Além do Horizonte

Local: Galeria Marília Razuk

Endereço: Rua Jeronimo da Veiga, 131

Funcionamento: segunda a sexta, das 11h às 18h; sábado, das 11h às 16h

Data: 17 de fevereiro a 26 de março de 2022

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