Em sua primeira individual na Galeria Marília Razuk, Ana Calzavara propõe uma síntese de duas ideias aparentemente opostas: o idílico e o vigiado. Utilizando suportes múltiplos suportes – pinturas, impressões digitais e gravuras em madeira -, a artista se valeu de imagens que compõem o imaginário humano da natureza intocada para colocá-las em contraposição com o modelo de hipervigilância da contemporaneidade.
A exibição, Além do Horizonte, é uma dupla referência que reflete essa tensão: se, por um lado, é homônima à canção de Roberto Carlos que fala de um lugar paradisíaco e isolado para celebrar seu amor, também remete a um sistema de radar altamente avançado, de tecnologia pouco acessível para a maioria dos países e utilizado para detectar alvos a centenas de quilômetros, além da curvatura terrestre – o Over The Horizon. Coincidência ou não, no Brasil esse equipamento se encontra situado em uma praia de difícil acesso sob controle da Marinha, no extremo sul.
A artista, que busca referências em autores como Byung Chul-Han e Liv Strömquist para pensar o impacto do digital na maneira como vivemos, utiliza a impressão digital como uma forma de diluir as características quase românticas das pinturas que têm por tema essas paisagens. De forma similar, há um intercâmbio intrigante entre a mão e a máquina nas obras que são reinterpretações feitas com maquinário a laser de obras anteriores encavadas artesanalmente.
Para Calzavara, trata-se de de um contraponto entre desejo e possibilidade, característico de uma maneira de pensar a paisagem como um reflexo da vida contemporânea – e, portanto, das incertezas que ela carrega. Trata-se do espaço do híbrido, do “estar entre”, característico de Ana Calzavara que, propondo um diálogo entre diferentes expressões artísticas, retrata espaços que estão sempre prestes a se desfazer.
Além do Horizonte
Local: Galeria Marília Razuk
Endereço: Rua Jeronimo da Veiga, 131
Funcionamento: segunda a sexta, das 11h às 18h; sábado, das 11h às 16h
Data: 17 de fevereiro a 26 de março de 2022