Aberta na última terça-feira no IMS Paulista, a exposição “Anri Sala: O Momento Presente” é a segunda grande apresentação do trabalho do artista albanês no Brasil, precedida apenas pela individual do artista no IMS Rio de Janeiro, entre 2016 e 2017. Ao contrário da mostra carioca, a exposição reune principalmente trabalhos recentes, sobretudo videoinstalações sonoras, tais como The Present Moment (2014), Long Sorrow (2005), Answer Me (2008), Le Clash (2010) e Tlatelolco Clash (2011).
Um dos grandes nomes da cena internacional arte contemporânea, Anri Sala (n. 1974) alcançou reconhecimento público e de crítica com o vídeo Intervista (Finding the Words), de 1998, que recebeu os prêmios de Melhor Documentário no Festival Entrevues, em Belfort, França, e no Brooklyn Film Festival, em Nova York, além de Melhor Curta-Metragem no Festival Amascultura, em Lisboa. Como grande parte da obra de juventude do artista, o curta assume a forma de documentário para abordar de maneira metafórica a herança comunista de seu país de origem e suas consequências intersubjetivas, como dificuldades comunicacionais entre diferentes gerações e a manipulação do passado histórico.
Com o tempo, sua obra torna-se cada vez mais voltada à temática da insuficiência da linguagem verbal como meio de transmitir informações e sentimentos. O artista passa então a realizar filmes e instalações em que a palavra é muitas vezes inexistente, e toda a narrativa se dá através de forma visual e musical. Uma das obras emblemáticas desta fase é a videoinstalação Ravel Ravel Unravel, de 2013, apresentada no Pavilhão da França na 55ª Bienal de Veneza e pela qual o artista recebeu o 10º Prêmio Benesse. Composta por duas partes, em uma delas o espectador observa dois diferentes pianistas interpretarem o Concerto para piano para mão esquerda, composto por Maurice Ravel entre 1929 e 1930. As duas performances exibidas simultaneamente foram executadas em tempos diferentes, gerando um efeito sonoro de assincronia. A segunda parte da instalação traz uma DJ tentando ressincronizar as duas interpretações para, portanto, reconstruir a peça original de Ravel.
“Anri Sala: O Momento Presente” busca explicitar a dimensão política que se manteve em sua obra mesmo na segunda fase do trabalho do artista, mais poética e menos narrativa que os documentários de começo de carreira. Nesse sentido, um dos destaques da mostra é a videoinstalação Làk-kat 3.0 (Brazilian Portuguese/Portuguese/Angolan Portuguese) (2016), uma nova versão do vídeo Làk-kat, filmado em 2009 no Senegal. A obra é composta por três telas que mostram a mesma cena de um diálogo em uólofe (língua original da região onde hoje fica o Senegal) e francês, com legendas em português, enfocando diferenças entre expressões idiomáticas típicas do Brasil, de Portugal e de Angola, em referência ao passado colonial do Brasil e suas raízes africanas.
A exposição no IMS Paulista pode ser visitada até 25 de março.