Afinal, quem foi Johannes Vermeer?

Entenda a magnitude das obras de Vermeer por meio dos aspectos de sua vida

por Giovana Nacca
4 minuto(s)
Moça com o brinco de Pérola, 1665, Johannes Vermeer

Semana que vem, no dia 10 de fevereiro, o Rijksmuseum de Amsterdã inaugurará sua ambiciosa exposição após se propôr ao desafio de reunir todas as pinturas de Vermeer espalhadas pelo mundo. Esta, que será a primeira – e talvez última – vez que o público poderá encontrar toda a trajetória do artista em um único lugar, apresentará um total de um pouco mais de 30 obras. Sim, 30 peças. Você deve estar se perguntando “como um pintor tão renomado, o autor da icônica Moça com brinco de pérola, tem tão poucas peças para serem exibidas? E por que tanta comoção para reuni-las?”.

Johannes Vermeer, apesar de ter nascido na era de ouro dos Países Baixos, tal como Rembrandt e Frans Hals, no século 17, é tido como o mais misterioso dos grandes pintores holandeses. Acontece que até o século 19, ele foi pouco reconhecido e, ainda hoje, há uma grande dificuldade de se ter informações sobre sua biografia. Por isso, vamos responder algumas perguntas-chave para você compreender sua obra e mergulhar no que se sabe sobre sua história.

Por que Vermeer produziu tão poucas obras?

Reynier Vermeer, pai do pintor em questão, passou a vida produzindo um fino tecido de cetim – o que pode justificar tantos tecidos sofisticados aparecerem nas pinturas do filho –, mas um ano antes de Johannes nascer, ele se tornou negociante de arte. O herdeiro, então, seguiu os passos do pai e sustentou sua família de onze filhos como negociante de obras.

A pintura, portanto, era em sua vida uma atividade de meio-período e ele não chegou nem perto de desfrutar das fortunas que seu trabalho move hoje no mercado. Durante a maior parte de sua curta carreira, essas obras até alcançaram altos preços no mercado local, mas a desanimadora economia holandesa do início da década de 1670 tornou seus últimos anos miseráveis. Aos 43 anos de idade, o artista faleceu, deixando sua esposa e filhos em dívida. Logo em seguida, a viúva vendeu as últimas pinturas, às vezes fingindo ser de outros nomes mais renomados da época, para levantar sustento para a família. Por isso as obras se espalharam e até hoje existe uma grande dificuldade de encontrar todas elas e autenticá-las.  

Como a obra Moça com brinco de pérola ficou tão famosa?

Sabendo do contexto de vida impopular do artista, não deve ser difícil de imaginar agora que sua pintura mais famosa não valia quase nada até o século 19. A Moça com brinco de pérola só foi vista pelo público em geral a partir de 1881, quando colocada em leilão no Venduhuis der Notarissen em Haia. No episódio a pintura atraiu a atenção do influente funcionário cultural Victor de Stuers, que estava lá junto com seu amigo e vizinho, o colecionador de arte Arnoldus Andries des Tombe. A dupla havia concordado em não fazer lances um contra o outro, então Des Tombe adquiriu a preciosa obra pela soma insignificante de algumas moedas e a exibiu em sua casa em meio a seu precioso acervo. E como o colecionador não tinha herdeiros, por meio de seu testamento, Des Tombe doou esta e outras pinturas ao museu Mauritshuis em 1902.

Por que o Barroco holondês, ao qual pertence Vermeer, é tão diferente do Barroco italiano? E quais são as principais temáticas retratadas pelo pintor?

A Guitarrista, 1970-72, Johannes Vermeer

Quando jovem, Vermeer retratava temas religiosos, mas como os Países Baixos eram calvinistas, a grande demanda não era essa. O artista também cresceu em uma educação protestante, mas foi um pouco antes de se casar que ele se converteu ao catolicismo, praticado pela família de sua esposa. Sendo assim, paixão, sofrimento e sexo – assuntos presentes no barroco italiano – foram banidos de sua arte, dando espaço para cenas domésticas meticulosamente arranjadas, aparentemente com família e amigos como modelos. Acredita-se, por exemplo, que um casaco de sua esposa, descrito em um inventário como “uma jaqueta de cetim amarela com bordas de pele branca”, seja a peça de roupa que aparece em nada menos que seis das pinturas de Vermeer. Vale dizer também, que o artista quase sempre retratava apenas mulheres e seu único assunto masculino foi seu amigo e inovador de lentes, Antonie van Leeuwenhoek – que pode ter influenciado seu interesse técnico pela câmera obscura.

O que se destaca na técnica de Vermeer?

O pintor foi intensamente preocupado com o comportamento da luz e outros efeitos ópticos, como recessões repentinas e mudanças de foco. Graças às pinturas polidas que vemos, muitas vezes pensamos nele como um perfeccionista, mas imagens químicas de estudos mais recentes nos deram um vislumbre de um artista impetuoso e até impaciente. Esses estudos indicam que às vezes, Vermeer começava com um esboço pintado e depois adicionava rapidamente uma subcamada ousada para traçar suas figurações. 

Mas fato é, que o pintor possuía uma capacidade única de criar contornos e formas usando luzes em vez de linhas. A própria Moça com brinco de pérola, conhecida como a “Mona Lisa do Norte”, resume muito bem a maestria do artista em conseguir revelar algo, mesmo que com pouquíssimos detalhes. Ao olhar o quadro, certamente você vê que a moça tem um nariz, mas onde está a sua ponte? Onde está a sobrancelha? Ou então os detalhes do enorme brinco? Com poucas manchas Vermeer nos faz ver o que ele deseja.

A Leiteira, c. 1660, Johannes Vermeer

Em A Leiteira, ele usou pequenas pinceladas e pontos contrastados – uma técnica pontilhista quase impressionista – para pintar as áreas iluminadas pelo sol no vaso azul. Mas a observação apurada do artista era direcionada à luz, já nos demais elementos, ele costumava ser um grande inventor. Inclusive, uma das marcas de sua produção é a recorrência de tronies, um gênero que pode até se basear em modelos vivos, mas que expressa imagens completamente idealizadas. Ou seja, são pinturas que apesar de apresentarem figurações, não podem ser consideradas retratos, porque não mostram pessoas identificáveis. Alguns exemplos desse gênero na produção de Vermeer são o Retrato de uma jovem (1667), Moça com chapéu vermelho (1665), Moça com flauta (1665-70) e, mais uma vez, a Moça com o brinco de Pérola (1665).

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