O mercado de arte, assim como qualquer outra atividade econômica, está sempre sujeito aos ciclos de prosperidade e recessão, bolhas e expansão. Porém, seus funcionamentos e meandros não atendem de maneira tão direta e consequente às tendências da economia geral, e as relações e impactos têm equilíbrios complexos, delicados.
Em 2008, por exemplo, no mesmo dia do colapso de diversos bancos de investimento americanos e do início de uma violenta e profunda crise global, Damien Hirst fez história com a venda de diversas de suas obras em um leilão da Sotheby’s, alcançando um valor total de mais de US$200 milhões (Beautiful Inside my Head Forever foi o nome dado ao evento, quase como uma performance). O artista subverteu o funcionamento do sistema, que prevê a primeira venda de uma obra em galerias, e depois sua re-venda em leilões, contornando o mercado primário e gozando da venda direta ao público.
Da mesma forma, agora em 2019, as economias do mundo sofrem com os sinais de uma recessão iminente, e crises políticas alimentam a instabilidade, incerteza e especulação nos mercados. O novo primeiro ministro inglês, Boris Johnson, tem contribuído para esse cenário instável. O polêmico político tenta negociar um acordo para a saída do Reino Unido da União Europeia depois da votação a favor do Brexit. Essa situação tem favorecido o mercado de arte da Europa, com Paris como centro alternativo às galerias, feiras e exposições.
A capital francesa vem surgindo como a próxima potência do mercado de arte da Europa continental. A insegurança em relação à situação do Reino Unido levou a mega-galeria David Zwirner –com espaços em Nova York, Londres e Hong Kong –, a inaugurar às pressas uma filial em Paris logo antes da FIAC. A onda é tão positiva que outras galerias estão seguindo os mesmos passos: a White Cube abrirá um escritório (um prelúdio para estabelecer um espaço comercial funcional) e a Pace anunciou estar procurando imóveis para sua nova empreitada na cidade.
A FIAC deste ano, realizada como sempre no luxuoso Grand Palais, há tempos não via um clima tão otimista. A feira por muitos anos foi preterida por outros eventos no circuito global como a Frieze de Londres e a original Art Basel, na Suíça. Antes uma feira mais regional, hoje FIAC tornou-se parada obrigatória para colecionadores e instituições. Thaddaeus Ropac, dealer austríaco que tem espaço próprio em Paris desde 1990, em entrevista à artnetNews, disse ver uma cidade pulsante, em pleno renascimento. Um dos motivos para tanto ânimo do galerista veio da venda de uma obra de Rauschenberg durante a feira por impressionantes US$1.7 milhões. Ainda que as dúvidas quanto ao Brexit não sejam o único motivo para tanta confiança, é inegável que a saída do Reino Unido terá impactos duradouros na economia em geral, mas igualmente no mercado de arte internacional.